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10 janeiro 2012

degustações poéticas #2

   Comecei o ano assim um pouco alheio e distante da escrita, às vezes baixa uma desmotivação terrível, um sem-vontade forte, vigoroso... Tenho percebido que o início de cada ano é pra mim das épocas mais tristes, se não mais tristes, mais introspetivas, parece haver uma fadiga interna, antecipada, sim, prevendo, imaginando, como que já decorrente das possíveis misérias de um novo tempo. E 2012, dizem os maias, ou os tolos, vai ser como que um ponto final aplicado num parágrafo demoradamente fastidioso. Não, fim do mundo, não acredito, e, como um tolo senhor de seus dogmas, ouso o grito, não acabará o mundo, nem agora, nem nas gerações de meus filhos e meus netos, o mundo acaba quando termina o que a gente sente.
   E falo até das sensações menos agradáveis, menos boas, das picadas, aborrecidas picadas de muriçocas, das vacinas, gripe, tétano, daquela dor de cabeça insuportável que nos obriga a uma aspirina, do tato, do olfato, perfumes, cozinhas vivas de cheiros, o toque, suave, meigo, ou rude e áspero... Viver termina ao terminar esse jorrar de sentidos e de sensações, e para uns, é certo, esse viver terminará este ano, quando os corações perderem sua força, abandonarem esse ritmo delicado de seus fados...

   Vamos viver?
   Eu faço-o a meu jeito. Assisto. Viver, para mim é um pouco como estar sentado numa sala de cinema, vazia, dolby sorround, assistindo um filme, filme esse no qual intervenho quando quero. E não adianta me chamarem, "Vem, queremos que entres nesta cena". Eu entro, é esse meu gozo, quando quero, eu decido, eu escolho, e levo o roteiro escrito a meu gosto, falas curtas, vulgares, linguagem popular, e não, não me moldem os gestos, só eu sei se entre um fôlego e outro devo sorrir ou ser bárbaro e com precisa solenidade estirar ou não o dedo, só eu sei.
   É essa condição, a de espetador até de mim mesmo, que me impele para a escrita, me empurra e joga nessa tentativa de descrever, pintar, a fita que lentamente se desenrola na minha frente, mas para isso, para isso não bastam os olhos, é preciso tato, coração pleno, e criatividade misturada a um tempo com fermento para que cresça.

   Da minha escrita, que eu às vezes nem sei sequer se é poesia, mas tenhamos o "sim" como princípio, me vi apenas escrever isto:

   "Minha poesia é mínima. Nos gestos, na tinta. Mínima no pensar. Minha poesia é o mínimo. O mínimo de tudo. Nela tudo é reduzido. A barca, o tempo, o mundo. O sentido. Como devia ser. Minha poesia é mínima de recursos. De estilo. Seu recurso maior é um vazio profundo. Um poço. Interior doentio. O estilo é grotesco. Brega em absoluto. Um quadro. Mal pintado. Pincel tosco. Barato. Má mistura.
   Minha poesia é plana. Como plano é tudo. De altos e baixos é a vida. Minha poesia não fala. Não pode. De minha vida. Se o fizesse... Oh! Seria mais mínima que a mínima poesia. Mais rasa que o que rasa tudo.
   Minha poesia não é."

   Talvez por isso, esse mínimo me tomando, tenho encontrado especial prazer em construções "poéticas" pequenas, pequenas enquanto extensão no papel, não raras vezes com pouco mais que quatro, cinco ou seis versos. No fim de contas, coisa minha, a minha ou a tua vida, sim, a tua, que agora lês isto, pode ser que se resuma a uma só invocação, interjeição, um ai!, um grito, e eu gosto, amo o que é breve mas substancioso, pequeno mas abrangente, como um leve e vitamínico "amo-te".
   E...

"Minha garganta fraca
Não me permite, meu deus, o uivo
Faltam vocais cordas pra efeito
Ouvido bom, menos surdo
Ou acaso cachorro uiva
Não sabendo se uiva ou late?"

   No mais, é Viver!


2 comentários:

  1. Gostei de vc se mostrar assim, tão solto, na sua escrita, que esse ano te inspire muito.

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  2. É sua amizade que desejo lembrar para sempre e estará sempre em meu coração,
    mantendo-nos aquecidos, fortalecidos e segura de que nunca estarei sozinha.
    E é assim que eu guardo você
    Minha linda Amizade.
    E é assim que eu quero guardar...
    Como alguém que estará longe, mas sempre lembrará de mim.
    Obrigada pelo carinho nesse um ano de Viagem comigo.
    Obrigada por estar do meu lado sempre sem notar meus defeitos
    me aceitando como sou.
    Sei que deixo muito a desejar em responder a sua visita
    mais tenho cada amigo e amiga no coração.
    Me perdoe por levar uma unica mensagem para visita
    infelizmente minhas mãos não ajuda .
    Porem me sinto feliz e recompensada por todos entender minha situação.
    Na postagem tem uma presente desse dia tão feliz para mim
    ficarei feliz em encontra-lo no seu blog.
    Obrigada ,Deus esteja com todos nos nessa jornada
    que Deus me permita estar contigo por muitos anos ainda.
    Beijos e carinhos.
    Evanir

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"Seja bem vindo quem vier por bem."