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29 janeiro 2012

O Menino Da Sua Mãe (de Fernando Pessoa)

No plano abandonado
Que a morna brisa aquece,
De balas traspassado
- Duas, de lado a lado-,
Jaz morto, e arrefece.


Raia-lhe a farda o sangue.
De braços estendidos,
Alvo, louro, exangue,
Fita com olhar langue
E cego os céus perdidos.


Tão jovem! que jovem era!
(Agora que idade tem?)
Filho único, a mãe lhe dera
Um nome e o mantivera:
"O menino da sua mãe".


Caiu-lhe da algibeira
A cigarreira breve.
Dera-lhe a mãe. Está inteira
E boa a cigarreira.
Ele é que já não serve.


De outra algibeira, alada
Ponta a roçar o solo,
A brancura embainhada
De um lenço... Deu-lho a criada
Velha que o trouxe ao colo.


Lá longe, em casa, há a prece:
"Que volte cedo, e bem!"
(Malhas que o Império tece!)
Jaz morto, e apodrece,
O menino da sua mãe.


Fernando Pessoa

2 comentários:

  1. Poemas de todos os tempos.
    São doces, suaves e transparentes.

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    Respostas
    1. De todos os tempos, concordo. Com o Pessoa não poderia ser diferente. Um abraço.

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"Seja bem vindo quem vier por bem."