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21 abril 2012

Em 2500 seremos 10


        Eu não quero assustar ninguém. Longe de mim tal coisa. Até porque logo à primeira crônica pregar um susto ao leitor não será muito bom para o cronista. Mas como eu sou direto e sincero, aqui vai: em 2500 seremos 10. Sim, dez gatos pingados. Talvez até a viver um em cada Estado. Um na Paraíba (quer dizer, na Paraíba por este andar não terá um só brasileiro), outro no Rio Grande do Sul, outro em São Paulo, outro no Rio... Espantados? Eu não. Absolutamente.

        Não fazendo qualquer espécie de pesquisa, nem é preciso, qualquer comum mortal com dois dedos de testa já deve ter dado conta que há cidades brasileiras onde se morre mais do que se nasce. (no Nordeste, por exemplo, a luta pelo pódio a nível de taxa de homicídios é quase modalidade olímpica) E a culpa não é das fêmeas parideiras, que essas volta e meia estão de perna aberta. A culpa, meus caros, não querendo eu meter-me sequer nessas coisas, digo apenas, não é para aqui chamada.

        O fato é que a Luísa matou o Hipólito porque ele tossiu à mesa, o padre Santos matou a empregada porque ela guardou as cuecas na gaveta errada, o Artur matou o sogro porque era casado com a sogra dele, a dona Amélia matou o neto porque ele não se lembrava do nome do pai, etc, etc, etc, e entretanto nasceu uma só criança, na favela da Rocinha, o Felipe, que nós não sabemos sequer quanto tempo irá viver e se chegará a ser um adulto.

        De realçar que às mortes devemos ainda acrescentar umas centenas de flamenguistas prestes a cometer suicídio coletivo (a esperança é que o dentuço inclusive), as vítimas de cheias e outras intempéries (fora do controle humano), as vítimas de assalto (que teimam em reagir), as vítimas de acidentes de trânsito (cada vez em maior número, coisa que aliás não se entende, pois, ainda que mais carros implique um maior número de acidentes, mais acidentes implica mais mortos e por conseguinte menos pessoas na estrada), os idosos (que morrem de velhice e cada vez menos idosos- as estatísticas dizem o contrário, mas as estatísticas mentem; Abraão morreu com centenas de anos, o meu avô com 77), e os presidiários que num último esforço para darem sentido às suas vidas se auto-despacham para o outro lado.

        E a gente, meus caros, ou faz alguma coisa ou daqui a 500 anos abre as portas aos colonizadores e apruma o lombo para levar umas chibatadas. Como a gente não quer isso (eu não quero. Você quer?), escrava é a bunda da quenga, melhor mesmo começar a tratar os haitianos, os argentinos, peruanos, chilenos ou lá o que seja com o devido carinho, palmadinhas nas costas, refeições boas, para o caso da gente (nós brasileiros) continuar não se entendendo. Coisa que aliás, não sendo eu Nostradamus, prevejo nunca irá acontecer. E desta vez atrevo-me a chamar o boi pelos nomes e digo "a culpa é da bunda".

        Sério. A maior parte dos crimes resulta disto:
        - Oh, filho de rapariga, você tá olhando pra onde, hein? Tá olhando pra bunda da minha mulher? Tá, seu merda?
        - ...

        Pronto, cabra macho não perdoa esse atrevimento. Olhar a bunda da mulher dele assim na lata! Oh, tá fodido o cara.

        E, como eu havia dito, presumindo que vai acabar tudo no tapa, quem nos salvará serão os haitianos, os chilenos, os argentinos, etc, encarregados que ficarão de propagar a espécie. Não esqueçam de lhes passarem o passo do samba, o trato da cana e a malandragem brasileira. Tudo para que o Brasil não morra.



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