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09 novembro 2012

Sei...



        Escovo as costas, afe, sujeira é foda, passo o xampú, ah!, desse eu gosto, cheiro bom, escusado pedir, não vou falar a marca, toca a campainha, sabia que não devia ter vindo tomar uma ducha agora, três da tarde, quem diabos toma uma ducha a essa hora?, aiiiiiiiiiiiiiiiii, quer parar de tocar, sua merda?, penso, vontade de soltar o grito, corro pra pegar a toalha, porra!, puta que pariu!, cadê a merda da toalha?, Espera um pouco!, já vaaaaai!, grito, corro pela casa, nu, a coisa se balançando, mole, meio sem vida, agora, de manhã não foi assim, pego a toalha no guarda-roupa, a verde, odeio aquela branca listrada, limpo, enxugo, Pooorra!, espeeeeeeeeere!, visto uma calça, ligeiro, calço o chinelo, vou enfiando a camiseta no caminho da porta, Oi..., Oi, eu sou Glória, promotora da Claro, posso entrar?, Claro!, Ela entra, olho azul, anca larga, sorriso quenga, Oh, moço!, moço!, escuto do lado de fora, Sim?, Oh, moço, eu sou Rogério, sou da empresa de energia, falaram que tem um erro no contador, posso dar uma olhada?, Pode, sim, o contador é bem aí, aponto a caixinha do lado de fora, nojento, Ah, moço, desculpa, tanto trabalho que até confundo as coisas, sou não da energia, sou do combate à dengue, da prevenção, dá pra dar uma olhada no depósito da água?, Eu já por essa altura meio que de saco cheio, meio a contragosto faço o cara entrar, Prazer, Elias... Oi, eu sou Samanta, prazer. Você quer ver esse plano aqui da Claro?, fala pra ele, eu meio pasmo, meio sem saber o que acontece na minha sala, Ela não era Glória?, e ele não era Rogério?, não estou entendendo, Vocês querem água?, pergunto, os dois dizem que sim, Um calor danado lá fora, ele acrescenta, saio, pego a água na cozinha, fria, gelada acaba com a minha garganta, Oi?, moça?, moço?!, a porta da rua aberta, um murmúrio breve, quase imperceptível, Moça?, os dois saem detrás de um arbusto na frente de casa, ele com uma tampa de refrigerante nas mãos, Noooossa, senhor, você não pode deixar esses negócios por aí, isso acumula água e pra virar um foco da doença é bem rapidinho, chove um pouquinho e é um problema... Bem rapidinho, sei Rogério, bem rapidinho...
        
        Você tá pensando o mesmo que eu?
        
        Uns dias depois, estou na fila de espera no posto de saúde, escuto: “homi, veja só o que me aconteceu ontem. Estou em casa feliz da vida, depois do trabalho, mulher longe, sabe, às vezes preciso de um descansozinho, que ela dê umas voltas, me deixe no meu cantinho, gosto de tar assim quieto, mas nisso batem palmas na porta, vou ver era uma moça bonita, galega, com uns olhos claros, calça arrochada, falou um negócio que eu nem lembro o que e perguntou se podia entrar, eu deixei, pois tá claro, nisso escuto um rapaz me chamando, ‘sinhô!, sinhô!’, o cabra veio com um papo que era desse mosquito da dengue, se podia ver a caixa de água, e eu deixei o danado entrar, os dois sentam na sala, eu vou pegar os óculos pra enxergar melhor os papeis que a moça trazia, quando volto os dois se tinham escafedido, fiquei pensando, pensando, quando dou conta vejo minha Chiquinha vindo correndo assustada do banheiro, vou lá, encontro os dois de cochicho, o rapaz aponta o papel colado na porta e diz: tá tudo nos conformes, seu Zé, a moça, corada, olhou pra mim, A esferográfica dele não tava dando certo... Sei moça, sei, esse problema das esferográfica, pensei”,”E aí?”, perguntou o outro, “Que é que você fez?”, “Eu? Eu não fiz foi nada... De noite Martinha é que teve que me aguentar”.





2 comentários:

  1. Tive que ler duas vezes...
    Dá segunda fez sentido...

    Até mais RB...

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  2. Poisé...para a próxima corre pela casa como estavas nu banho e deixa o badalo dançar as horas. Sabes quanto isso é gostoso e ajuda a ficar mais consistente...
    Depois espreita pelo buraco e não abras a porta a ilusões baratas...
    Danado isso acontecer e te deixarem bem depenado e de pau murcho...

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"Seja bem vindo quem vier por bem."