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13 abril 2013

Ideia para conto #6



        Uma mulher dá à luz uma sombrinha. Desconfiada, acusa uma enfermeira com dentes espaçados de ter roubado seu filho. Em vão. Meses depois o juiz considera a enfermeira inocente e impede-a de adotar uma torradeira.
         No mesmo dia, quando chega a casa, encontra seu marido no chuveiro com o Elton John: “Não, Juvêncio, não brinco mais. Cansei de pegar o sabonete”. Magneide corre para a sala, pega o telefone: “alô, é do fabricante do sabonete sagache? É o seguinte: o vosso produto está com um defeito muito sério. Escorrega demais! Para além de que já usei vezes sem conta e não vejo jeito de tirar esse cheiro ruim da minha julinha”.
        Poucos minutos depois, os peritos da empresa chegam à casa dela, isolam o bairro e colocam Cavalgada das Valquírias, de Wagner, nos alto-falantes. Em repeat.
        “Dona Magneide, não tinha mesmo como esse cheiro ruim passar. A senhora tem um gato morto na sua julinha.”
        “Um gato morto?!”
        “Sim, sim. Veja!”
        “Oh! O pobre Meleca do seu Prudêncio. Ah, coitado!”
        “Agarrado a uma maçã. Olhe. Morreu agarrado a essa maçãzinha.”
        “Oh! Era como uma bolinha pra ele...”
        “E não é só...”
        “Não?!”

        O marido Juvêncio que assiste a tudo:
        “Os meus óculos de sol! Os meus Ray Ban! O que eu procurei por eles!”
        “O baralho! Caralho! Novinho ainda!”
        “A bola de sinuca! Você lembra? Deve ser a daquele dia que eu tava jogando com Babá. Ele ficou puto! Pensou que eu tinha escondido. Nossa! A gente nunca terminou essa partida.”
        “Não! O isqueiro?! O Pierre Cardin que seu Flauzino trouxe pra mim de Paris? Meu Deus, faz uns quinze anos isso!”

        E não é só. Tem ainda umas chaves, da moto que ele tivera de trocar o canhão, quatro abridores de garrafa, o controle remoto da TV, uma camiseta do mengão, uma 6.38, dois vales transporte e uma carteira profissional de motorista.

        “Magneide, e a santa? Tu não tem aí a santinha? A que painho trouxe lá de Juazeiro.”
        “Não, senhor, tem mais nada não”, fala um dos peritos.

        E nesse instante, veloz que nem raio, a julinha de Magneide corre solta, vai e se esconde no sótão. Magneide passa dias, clama, “anda, bichinha, desce daí”. A julinha desce não. Um dia, já farta, Magneide solta: “Foder, julinha! Tu também já não prestava pra nada!”

        E no lugar da julinha, Magneide vai e coloca um passe-vite.




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