Uma mulher dá à luz uma sombrinha. Desconfiada, acusa uma
enfermeira com dentes espaçados de ter roubado seu filho. Em vão. Meses depois
o juiz considera a enfermeira inocente e impede-a de adotar uma torradeira.
No mesmo dia, quando chega a casa, encontra seu marido no
chuveiro com o Elton John: “Não, Juvêncio, não brinco mais. Cansei de pegar o
sabonete”. Magneide corre para a sala, pega o telefone: “alô, é do fabricante
do sabonete sagache? É o seguinte: o
vosso produto está com um defeito muito sério. Escorrega demais! Para além de
que já usei vezes sem conta e não vejo jeito de tirar esse cheiro ruim da minha
julinha”.
Poucos minutos depois, os peritos da empresa chegam à casa
dela, isolam o bairro e colocam Cavalgada das Valquírias, de Wagner, nos alto-falantes.
Em repeat.
“Dona Magneide, não tinha mesmo como esse cheiro ruim
passar. A senhora tem um gato morto na sua julinha.”
“Um gato morto?!”
“Sim, sim. Veja!”
“Oh! O pobre Meleca do seu Prudêncio. Ah, coitado!”
“Agarrado a uma maçã. Olhe. Morreu agarrado a essa
maçãzinha.”
“Oh! Era como uma bolinha pra ele...”
“E não é só...”
“Não?!”
O marido Juvêncio que assiste a tudo:
“Os meus óculos de sol! Os meus Ray Ban! O que eu procurei
por eles!”
“O baralho! Caralho! Novinho ainda!”
“A bola de sinuca! Você lembra? Deve ser a daquele dia que
eu tava jogando com Babá. Ele ficou puto! Pensou que eu tinha escondido. Nossa!
A gente nunca terminou essa partida.”
“Não! O isqueiro?! O Pierre Cardin que seu Flauzino trouxe
pra mim de Paris? Meu Deus, faz uns quinze anos isso!”
E não é só. Tem ainda umas chaves, da moto que ele
tivera de trocar o canhão, quatro abridores de garrafa, o controle remoto da TV,
uma camiseta do mengão, uma 6.38, dois vales transporte e uma carteira
profissional de motorista.
“Magneide, e a santa? Tu não tem aí a santinha? A que painho
trouxe lá de Juazeiro.”
“Não, senhor, tem mais nada não”, fala um dos peritos.
E nesse instante, veloz que nem raio, a julinha de Magneide corre solta, vai e se esconde no sótão.
Magneide passa dias, clama, “anda, bichinha, desce daí”. A julinha desce não. Um dia, já farta, Magneide solta: “Foder, julinha! Tu também já não prestava pra
nada!”
E no lugar da julinha,
Magneide vai e coloca um passe-vite.
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