Ernesto, o professor de Química, meia
idade, rosto esquálido, passos arrastados, entrou na sala, semblante fechado.
Não era bravo, grosso ou deselegante. Falava com simpatia, modo suave,
carinhoso...
Sentou na cadeira junto do quadro
branco, pousou uma maleta em pele marrom sobre o assoalho e começou:
- Bom dia.
- Bom dia! – retribuímos.
- Os humanos são seres curiosos... Por
isso, gosto da Química. Vocês sabem o que me fascina na Química? – pausa.
Ninguém arriscou.
Entretanto, agachou-se, pegou a maleta,
abriu-a e retirou duas pequenas garrafas – uma com água, outra com óleo – e um
copo. Pousou-os sobre a mesa, do seu lado direito. Depois, enquanto o olhávamos
expectantes, abriu a garrafa com água e encheu o copo sensivelmente até metade
da sua capacidade.
- Agora observem. – disse, pegando a
garrafa com óleo e despejando um pouco no copo, sobre a água. – Não se
misturam. Veem?
À demonstração prática seguiu-se a
explicação científica:
- As moléculas de água, cuja atração é
resultado da ligação de hidrogênio, estão sujeitas a uma maior força
intermolecular. Por isso, porque as moléculas de água se atraem com mais força
que as moléculas de óleo, estas últimas não conseguem ficar entre as moléculas
de água vizinhas. Simples, não é?
Nós permanecemos calados. A classe
estava nesse dia inabitualmente silenciosa.
- Os humanos são curiosos... –
continuou. – Pretendem que haja entre eles uma mesma separação ou não diluição
como a existente entre a água e o óleo. E, no entanto, têm todos a mesma
composição. Um humano, seja da Sibéria, do Bangladesh, de África ou dos Alpes
suíços tem cerca de seiscentos músculos, duzentos e seis ossos e a mesma
estrutura molecular: 65% de oxigênio, 18,5% de carbono, 9,5% de hidrogênio, etc.
Fez-se mais uma pausa. Parecíamos, nesse
dia, incomumente atentos.
- O ser humano é curioso... Inventou,
dentro do grupo a que pertence, um “outro”. Sim, um “outro”. Mas a verdade é
que não há nenhum “outro”. Não há asiático, europeu, africano... Isso são
convenções! O “outro” é uma cilada. O “outro” é uma invenção. Somos todos
humanos!
Nesse dia, saímos da sala mais
crescidos. Sim, mais crescidos, eu e todos os outros, embora não tivéssemos
entendido muito bem porque o professor gostava de Química.
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