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11 fevereiro 2012

A Carrapatolândia e seus Preceitos

Oh, Deus, 
Cousa na aldeia 
Nunca vista!,
O besouro Josias,
Ansioso e inquieto,
Farto de banal vida
Se enxere pra jumenta guria,
Cansou de ser inseto.

"Sabes, Maria,
Algo, não sei ao certo,
Em ti me cativa...
E de tal modo
Que tonto fico
De te rodear todo dia.
Casa comigo."

A jumenta,
Não sendo burra,
Ousou pedir-lhe um tempo.
É cousa muito séria
Esse troço de casamento.

Oh, mas e os possessivos carrapatos?

Fervorosos parasitas, ciumentos,
Se reuniram às pressas
No Genitalo-Parlamento.

"Mas é uma afronta!,
Um estrangeiro chega cá
E nos rouba nossa melhor jumenta;
Bonita, asseada, muito prendada...
E ainda por cima, vejam só,
Ainda virgem e na puberdade.
Oh, não pode ser!,
Só por cima do meu cadáver!"

"Senhor presidente da mesa,
Com sua licença, o caro Eufrásio
Tem no caso toda a razão;
E julgo por bem,
Bem defendermos nossos interesses.
Que nossas maiores riquezas
Se esvaiam em estrangeiros prazeres,
Por certo, não nos convém.
É essa seleta jumentinha,
Caros colegas, cujo sangue
Nos alimenta, que devemos proteger
A todo o tempo.
Eu digo não a esse casamento!"

E o Silvino Carrapato
Um aplauso arrancou dos deputados.

"Minha proposta de lei é essa;
A da proibição da união
Entre nossas jumentinhas
E um qualquer besouro estrangeiro,
mal intencionado charlatão."

E mais uma salva de palmas
Ecoou no Parlamento.

Clap, clap, clap...

Viva Silvino Carrapato 
E seu arguto pensamento!

Viva! Viva! Viva!

E em espaço de dias,
Mão da jumenta recusada,
Se entristeceu o besouro Josias.

"Oh, infortúnio!, isso
Como pode? 
Lá em minhas terras
Os estrangeiros se casam
Com quantas jumentas queiram;
Uma por vez é certo...
Assim a lei aceita.
Oh, xenófobos, vis trambiqueiros!..."

E nesse ponto o interrompem
Magistrados ou polícia,
Cidadãos de respeito.
Por pudor não cito...

"Senhor besouro, senhor besouro!,
Astuto que é, bem sabe
É de muito valor nossa espécie
Bem tratada de jumenta...
Assim sendo, besouro sabido,
Nossa jumenta tem seu preço
E não se dá por desvario..."

Por sorte Josias é rico!
Por sorte Josias é rico!



6 comentários:

  1. o dinheiro é assim, transforma larva em borboleta, e tudo em volta em sanguessuga.

    muito bom cara, muito bom.

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    1. Oi, Alvarêz, obrigado. O dinheiro tudo transforma. Por vezes tudo piora. Abraço.

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  2. Ah, que legal! Crítica super criativa.

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    1. Oi, Patrícia. Obrigado.
      Crítica? Que crítica? (riso) Eu só contei uma histórinha! (riso) Estou brincando. Um abraço pra você e bom domingo. :)

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  3. o mundo tá infestado de carrapatos famintos.

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"Seja bem vindo quem vier por bem."