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16 fevereiro 2012

O Negócio do Frei Bumbum

"Frei Bumbum o céu merece,
Temente que é a Deus.
Ajudou pobre, desamparado,
A todos, sem esquecer os seus.
Frei Bumbum é homi bom,
Cumpriu o que prometeu.

Negar... Como negar lhe posso
O paraíso?
Raciocina, homem de Deus.
Preciso seria vão juízo
E nem o Pai, o Altíssimo,
Tal me perdoaria,
Privá-lo de tão nobre companhia.

Está decidido, por isso,
Os anjos e arcanjos se reúnam,
O recebam com pompa,
Aberto sorriso...
Frei Bumbum, bem vindo!,
Falem velhos e noviços."

São Pedro, bom santo,
Da pele do frei cuidando,
Emite o despacho,
Põe nas mãos do frei a chave,
Mas antes que o frei adentre
Celestial espaço, contente,
Mané Jerimum se achega,
Face rubra, a modos de gente beba.

"Oh, frei!, prazer em vê-lo.
Peço desculpa, mas apanhei
Porre tamanho, me embriaguei,
Que nem fui ao seu enterro.
Oh, mas nem por isso
Terrenas notícias me falham.
Soube por Tonho Roliço,
Por lá foi inté polícia
E dizem uns "quase o apanham".
Então, vocemecê,
De tão ric'alma,
Os malditos o dizem,
Enganou quem muito crê,
Dizia inté do céu ter planta?"

"Oxente!", o santo pensou,
"Era envolvido esse tal de frei
Co esse troço de marijuana?
Ah, mas poder não pode,
Em meu caderno ninguém tal anotou."

Mané Jerimum, que lia mente,
Na mente do santo adentrou.
Ai, meu Deus!, oxente!,
Viu coisas tais que embasbacou.

"Frei Bumbum é bom homi,
Meu tão bom São Pedro.
Bem sei, tem seus erros...
Mas me fale, meu bom santo,
De quem não os tem um nome.
Ah, tanta coisa em mente passa,
Eu o contasse...
Oh!, grande graça."

São Pedro, perspicaz,
Abriu na certa página;
Safado dum raio, o cabra
Sua mente leu.

Ah! Deus do céu, o diabo
Foi mais esperto que eu.

"Mané, bem vindo!
Aqui bem cedo chegou,
Ansioso estava do destino?"

Ah, Mané Jerimum, astuto,
Da má piada riu...

"O meu bom santo não sabe, é vero,
Mas de aqui chegar tinha pressa,
Vá pro céu, vá pro inferno...
O pior lugar é a Terra.

Já pro mundo me falta
Boa dose de paciência.
São cinquenta anos muito,
Me diz minha ciência."

Frei Bumbum calado ouvia,
A barbicha coçava, sorria...
Futuro no céu comprometido,
Esse negócio da celestial planta,
Mal lhe caiu no ouvido.

"Mané, meu bom homi,
Pura, meu Deus, falta de sorte.
O melhor lugar, de bom grado,
A você eu mesmo daria,
Mas, Oh!, infelicidade,
Tenho eu o céu lotado;
Chegaste, homi, em mau dia."

Falou o santo a medo,
Tímido interior tremendo,
Não fale ele seus segredos.

"Oh, santo, bom santo,
Sempre falava mainha:
Qualquer lugar cabe unzinho.
Esperança nisso eu tinha.

Olhe o frei, São Pedro...
Juro por Deus, não entendo;
Embusteiro que era
O dás por aceite,
E eu, d'alma sincera,
Deixas neste aperto?"

São Pedro desarma,
Mané é assaz esperto,
E, meio que sem querer,
Baixinho fala:

"Ah, Mané, assim não fales
De nosso frei magnânimo,
Da cristandade precursor;
O que contra ele tens,
Me fala, a modos, por favor."

E Mané Jerimum do bolso puxou
Papel encardido, amarelo,
Registro de proprietário
De celestial terreno
Que ele do céu pagou...

E quem foi que o vendeu?

"Foi o frei, meu bom São Pedro,
Foi o frei, meu bom São Pedro...

Agora o lugar dele é meu!"


6 comentários:

  1. Hermoso poema, con mucho sentimiento, con mucho amor.
    Bastante profundo!.
    Te dejo un abrazote y la gentil invitación para mi espacio.
    Saludos desde PERÚ!.

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  2. Quedas gratamente invitado.
    Abrazos!.

    www.nurinotas.com

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  3. Holaaaaaa... otra vez, para agradecerte el gentil gesto de tu visita.
    Me hubiera gustado mucho que dejaras tu huellita en mi blog, engalanando la lista de mis seguidores, así, no te perderé de vista!.
    Abrazotes!. Desde ahora te sigo!.

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  4. Respostas
    1. Oi, Ana. Muito obrigado pela sua visita e pelo apreço pelo que escrevo. Bom carnaval pra você. Abraço.

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"Seja bem vindo quem vier por bem."