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05 dezembro 2012

A Revolta dos Recipientes

        Essa pequena dramaturgia nasceu da vontade de minha esposa de fazer algo novo com os seus alunos. Para a feira de ciências. Pediu-me ela que escrevesse algo que envolvesse essa problemática do lixo, deu ideias, exigiu personagens (rs ela é assim), e fez uma ou outra recomendação. Eu fiz o resto, consciente de que nessa idade a atenção e disposição são poucas, criei um texto bem curto, fácil de trabalhar e de decorar. Mas que trouxesse uma mensagem forte e bem vincada, algo que pudesse mexer com eles e que ficasse, como um bordão, nas suas cabeças. Espero ter conseguido. Espero que na cabeça de muitos deles ainda ressoe por muito tempo esse "estamos fartos, estamos fartos". Os ensaios é que foram pouquíssimos- as faltas são frequentes.
        Deixo abaixo o texto e o vídeo da apresentação na Escola Maria de Lourdes, Natal.


A revolta dos recipientes

Cena I

O catador, à esquerda, vai pegando latinhas e colocando num saco, rabugento.  À direita, instantes depois, surge o médico, bata branca, queixo erguido, prontuário nas mãos, lê...

Médico- Oh, esse daqui já morreu... Dengue hemorrágica! (joga o papel no chão)

O catador, que percebe o gesto do médico, tosse. O médico não o nota, tira uma máquina fotográfica do bolso, encara a paisagem...

Médico- Ah, pilhas velhas! Esqueço sempre de comprar recarregáveis. (tira as pilhas da máquina e joga-as no chão, zangado) Nunca funciona quando a gente quer.
O catador, que mais uma vez percebe o gesto do médico, tosse. Dessa vez com mais força. Mas o médico continua não o notando, e tira um lenço de papel do bolso.

Médico- Ainda por cima essa gripe! (assoa o nariz, tira um sanduíche do bolso) Ai, sanduíche mais podre! Ai, que nojo! (deixa cair o sanduíche e o lenço de papel no chão)

O catador, ainda mais furioso, tosse mais forte ainda. Nesse caso, pode aumentar o número de tossidas. A Terra que presencia toda a ação junto ao fundo da cena, vai ficando mais triste.

Catador- (colocando o saco no chão) basta! (grita) Amigos!

Nesse instante, entram todos os recipientes correndo, rodeiam o médico que parece meio assustado. Pelo contrário, no fundo da cena, a Terra se anima.

Recipientes, Catador- (andando ao redor do médico)

Estamos fartos, estamos fartos
De tanta inconsciência
Jogar o lixo no lugar certo
Não requer nenhuma ciência
Estamos fartos, tomem nota
Lixo em todo lado
Nos rios, nas calçadas, nas portas
Não será mais tolerado

Nesse ponto, vez a vez, um se destaca, chega-se ao médico e grita:

Azul-
Azul é a minha cor
Até criança sabe
Papel, por favor

Vermelho-
Vermelho, seu Horácio,
E não finja que não sabe
Eu sou o lugar do plástico

Amarelo-
Pra mim, por favor, metal
Vestido de amarelo
Levo desleixo a mal

Verde-
Eu sou a cor do vidro
Esse verde bem bonito
Não quero ficar bravo contigo

Marrom-
Marrom, sinhô doutor,
Lixo orgânico, você sabe,
O sanduíche, por favor

Roxo-
E eu sou o mais perigoso
O demônio radioativo
A minha cor é o roxo

Branco-
E eu o lixo hospitalar
Germes, vírus, bactérias
Vou te infectar

Preto-
Eu sou o parente negro
Responsável pela madeira
Cuidado com esse enredo

Cinza-
Sou, doutor, o pior de todos
Cinza, lixo contaminado,
Maltratado morre todo o povo

(todos, menos o médico)-
Estamos fartos, estamos fartos
De tanta inconsciência
Jogar o lixo no lugar certo
Não requer nenhuma ciência
Estamos fartos, tomem nota
Lixo em todo lado
Nos rios, nas calçadas, nas portas
Não será mais tolerado


Nesse momento, o médico foge correndo. Os recipientes saem instantes depois. Em cena fica apenas o Catador, que continua sua tarefa, e a Terra girando feliz.

Cena II

À esquerda, o catador recolhe os detritos, a Terra ao centro, feliz, na direita, um corpo, o médico deitado sobre o chão. Quando o Catador o vê, corre até ele. Verifica o pulso.

Catador- Morto!

Nesse instante, entram os recipientes, cercam-no, e um a um repetem:

- Morto!
- Morto!
- Morto!
- Morto!
- Morto!
- Morto!
- Morto!
- Morto!
- Morto!

Entra a agricultora.

Agricultora- Leptospirose! Leptospirose!

Outros- Leptospirose?!

Agricultora- Leptospirose.

Agrupam-se todos na frente.

Todos-
Estamos fartos, estamos fartos
De tanta inconsciência
Jogar o lixo no lugar certo
Não requer nenhuma ciência
Estamos fartos, tomem nota
Lixo em todo lado
Nos rios, nas calçadas, nas portas
Não será mais tolerado
Estamos fartos! Estamos fartos!


Apresentação na Escola Maria de Lourdes, Natal-RN.


Ficou legal, né? (não foi editado)

E essa perna do médico morrendo... Eu ri demais! rsrsrs







Um comentário:

  1. É urgente fazer estas representações em todas as escolas e infantários para que os meninos tomem consciência desta situação.
    - Jogar o lixo em qualquer lado e não ver a gravidade do lixo tóxico.
    Hoje já existe uma boa camada que sabe tratar o lixo mas outros sabem e não querem colaborar na selecção do lixo e onde deve ser colocado

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