Páginas

16 junho 2013

Arruda-me



        “Deus quer, o homem sonha, a obra nasce.” Pessoa. Simples assim. Josué Arruda é escritor. Experiente. Quarenta e cinco anos. De vida. De profissão são apenas vinte. Já escreveu para a Veja. Já escreveu para o Expresso. Semanário português. Participou de alguns roteiros da Record. Escreve quadrinhos. Escreveu quarenta e sete dramaturgias. Alibibi e os cem fanfarrões. Quadrado não, dê o reto. Josué Arruda escreve muito. Acorda de manhã pensando “vou escrever um livro”. Antes de terminar o pequeno almoço já tem a story line. Josué Arruda é foda. Meio-dia o livro está pronto. Pega o telefone. Liga com a editora. Qualquer. Toda editora o quer. Josué Arruda pode. O editor promete, final da tarde o livro está pronto. Envia o contrato por e-mail. Josué Arruda não liga pra grana. Dez por cento é quanto baste. O lançamento é às seis da tarde. E passa a tarde chamando os convidados. Depois do jantar todos se reúnem. Tiram foto. Tomam champanhe. O livro é bom. É claro. É do Josué Arruda. E é um sucesso. Vendeu pouco, mas que importa? Do livro todo mundo fala. É meia-noite e ainda recebe torpedo. “Poxa, cara, livro bacana!” Josué deita, “Deus quer, o homem sonha, a obra nasce”. Manhã cedo toca o despertador. Sete horas, levanta o bacana. É profissa esse escritor. Fim do pequeno almoço tem outra story line. Fácil assim. Num eterno retorno. Josué Arruda só quer aplauso. Vá, por favor.

 Aquarela de Mag Barbosa





Nenhum comentário:

Postar um comentário

"Seja bem vindo quem vier por bem."