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04 setembro 2014

Poema do amor que se repete


Noite pungente.
Tomam-me as lembranças
E delas se me tomam os dias,
Os silêncios, os dramas, as rimas...

Não me dói o passado em suas fantasias,
Em seus torpores, mágoas ou alegrias;
Doem-me suas impossibilidades,
O reparo de teu choro, teu riso,
Toda tu ao abandono...

Oh, ocaso imperfeito!

Sorrisses de novo,
De novo me tomasses
Em tuas horas sôfregas da vida...
Beijasses-me de novo,
De novo me abraçasses,
Toda tu na ânsia de teus braços,
Com a força de quem me enterra no peito...
Fôssemos os dois, de comum acordo,
Novamente naquele ponto
E de novo nos enamorássemos...
Seria meu gozo pleno, satisfeito
E a noite não tão noite
E o luar não tão contrafeito.

Mas escapam-me o verbo,
O trato sonoro e vocal.
Faltam-me a fortuna e o ensejo
De fazer presente o passado
Que não seja pela força da palavra
Escrita que assoma em alto brado,
Supera-me, transcende-me
E me toma em seus espaços.

Escrevo o que viver mais não posso.
O que anseio e desejo
Só quando o escrevo o vivo e sinto.

Escrevo, e a cada palavra escrita
É uma sensação que edifico,
Um pouco de nós que materializo.

Escrevo-
E de novo, de novo
Em cada palavra
Assoma teu riso.



2 comentários:

  1. Gostei deste poema. Um regresso ao passado no presente.
    A mesma fome, os mesmosdesejos...
    Tudo se renova e nos alimenta nas cores da vida e do amor.

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"Seja bem vindo quem vier por bem."