É
domingo. Dia lindo! Manhã cedo tem a missa. Minha ligação ao divino. Vejo os
amigos, descansados, bem vestidos. João José comprou fraque, azul escuro, corte
fino. Gravata listrada, nó apertadinho. Cuidado, João, com esse arrocho das
goelas. Transpira suíno. O calor nordestino não ajuda, né, meu filho?
Imagino... É o estilo de Dona Carminda. Tião Tim veio de bicicleta. Nova. Quer
dizer, semi-nova. Vi um rasgozinho na cobertura do selim. Ganhou de seu primo.
Por serviços prestados, disse. Sei... Não, não é viado o pobre Tim Tim. É
mentiroso, só isso. Coisa de família. O pai dele é Seu Leandro Promessa. Conhecido.
Nenhuma dá por cumprida. Mas não condeno. Isso julgará o altíssimo. Ah, estava
esquecendo... Pedro comprou carro novo. 5 portas. 1600 de cilindrada. 0 aos 100
em 7 segundos. Uma pena. Pra ele servia um jumento. Pede licença para tudo. Vou
dobrar, amigo. Dá sinal uns trinta metros antes. Arranha a marcha. Difícil
passar de terceira, quanto mais uma quarta. Eu rio. Escondido, claro. Hoje em
dia as pessoas são muito sensíveis. Qualquer coisa se aborrecem. O mundo está
perdido.
Daqui
vou para casa. Meus vizinhos já devem ter iniciado o set. Prevejo funk
ostentação misturado a um brega rasgado. Decibéis alegres, inconformados. A
música é assim: odeia limites. Minha mulher luta com um frango assado. Morto,
continua dando luta. Eu farei um outro workshop rápido. É um hábito sadio,
ensinar o que não sei bem. Disfarço. E um dia aprendo. Para ela fica ótimo. Só
eu sei que aquele corte das coxas não é lá muito profissional. Deixo a pobre da
galinha meio desfigurada. Arraso suas ancas.
A
família toda virá hoje. É domingo. Meu pai colocará mil e um defeitos na
construção da casa. Olha como eles assentaram esse azulejo! Eu aceno a cabeça.
Verdade. Esses quadrados deveriam encaixar uns nos outros, de tal forma que de
todas as vezes fossem quadrados, não umas meias pontas de estrelas perdidas no
chão de minha casa. Sacanagem! Odeio pensar que paguei por um serviço porco.
Fico
aborrecido. Carlinha, minha filha, na correria com os primos rasga a cabeça. Dá
vontade de costurar aqui mesmo. Não. Chamarei um táxi. “Pede a Pedro, Carlos. É
mais rápido. E ele é tão teu amigo”, aconselham. Pede a Pedro. Eu não. Mas alguém
faz o pedido. Pedro chega à minha casa pouco depois. Eu odeio. Odeio quando
necessito. Ai, o que se passa por causa de um filho.
No
hospital, falta atendimento. A menina não vai morrer, eu sei, mas está
sofrendo. E os gemidos dela e da mãe empenam meus ouvidos. A cara pseudo-serviçal
de Pedro não ajuda.
É
domingo. Dia lindo! Chego a casa já noite. Requento o que sobrou do frango
assado. “Amor, coloque o despertador para as 5 horas. Não esqueça que amanhã é
segunda. E esta semana é você que leva Carlinha na escola.”
Enfim...
Domingo um dia diferente para muitas pessoas. Para muitas outras continua a ser um dia de trabalho. Hoje muitas pessoas trabalham aos Domingos.
ResponderExcluirGosto dos Domingos porque geralmente juntamos a família e há sempre tempo para falarmos de nós e das nossas preocupações.