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16 dezembro 2014

Jornal




I
- Posso pegar o jornal, Seu Ricardo? – pedia umas vezes, outras, roubava. Não lia nenhum; se abrigava. Do frio, da chuva, da miséria humana.

II
Numa madrugada fria de inverno morreu atropelada como cachorro, sem suspeito nem placa. E ninguém houve que aparecesse a sepultá-la. Nem eu.

III
No jornal do dia seguinte, que abrigaria outros seres vivos, numa nota pequena se lia: “menina de rua morreu atropelada”. Embaixo, com caneta, acrescentei: “mas seu sorriso de anjo torto ainda vive”. E seria o melhor epitáfio.




Um comentário:

  1. Cada dia desta nossa actualidade voa numa indefinição gritante.
    As pessoas desaparecem nos silêncios do esquecimento.
    Persistem os mais novos na memória de seus Pais

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"Seja bem vindo quem vier por bem."