I
- Posso pegar o jornal,
Seu Ricardo? – pedia umas vezes, outras, roubava. Não lia nenhum; se abrigava.
Do frio, da chuva, da miséria humana.
II
Numa madrugada fria de
inverno morreu atropelada como cachorro, sem suspeito nem placa. E ninguém
houve que aparecesse a sepultá-la. Nem eu.
III
No jornal do dia
seguinte, que abrigaria outros seres vivos, numa nota pequena se lia: “menina
de rua morreu atropelada”. Embaixo, com caneta, acrescentei: “mas seu sorriso
de anjo torto ainda vive”. E seria o melhor epitáfio.
Cada dia desta nossa actualidade voa numa indefinição gritante.
ResponderExcluirAs pessoas desaparecem nos silêncios do esquecimento.
Persistem os mais novos na memória de seus Pais