Todo
o ano tem um pequeno arraial de S. João aqui na rua. Pequeno, mas vistoso. E
eu, imbuído da alegria própria da época festiva, saio convidando todo mundo:
parentes, amigos, colegas e conhecidos. “Tem quadrilha, tem milho assado, tem
pinga, muita animação... Vão. Não esqueçam!”
Este
ano lembrei-me de Seu Tião, recolhido em casa faz tempo, com um problema sério
nos quadris. Fui até a casa dele. A mulher veio receber-me. Enquanto o
aguardava na sala, vi sobre um velho criado-mudo um porta-retratos grosseiro rodeando
a figura graciosa de uma moça negra, de uma beleza indizível, com xale branco
de linho e saia cinza comprida.
Não
me contive. Peguei o retrato e examinei curioso cada pormenor, o sinal delicado
embaixo dos lábios, as maçãs do rosto garbosas e alegres...
-
Seu Tião, quem é essa moça na foto?
O
velho mago, de fome e meia, defensivo,
fez um silêncio profundo. Depois atirou:
-
Minha vó. – e como que notando minha curiosidade, acrescentou: - Foi escrava de
um sargento mor, Rapozo, um sujeito branco que nem você, que embuchou ela e
depois fez ela se afogar no mangue.
Meu
coração apertou. Fiz o convite e saí.
Apeteceu-me
falar, mas não falei. Fui antes, entre um flash e outro daquela moça lindíssima, ruminando algumas palavras no caminho de casa: “O
sujeito podia até ser branco, mas não era branco do mesmo branco que eu mesmo”.
Nesse mundão de meu Deus há tantos brancos do mesmo tipo...
ResponderExcluirSe bem me lembro, conheço uns dez....
Abraços,
Araceli
www.pedradosertao.blogspot.com.br
Bom dia
ResponderExcluirAs boas ou as más acções nunca se mediram pelas cores da pele,mas pelas cores que formam e fundamentam a alma humana. Pouco me importa se são brancos ou pretos,bonitos ou feios. Hoje muitos se esquecem de saber educar e formar a pessoa humana pelos valores mais altos da sociedade.
Trocam-se valores morais e humanos por sujeiras e idiotices sem qualquer dignidade.
Parece ser,mas não é. Vidas enganadoras sem lógica nem dignidade humana.