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08 dezembro 2014

O jogo



Um dia ficarão as cartas sobre a mesa, esparsas, alheias ao gozo do lance. Eu e ela seremos fios de sombras imberbes sulcadas na tua pele argilosa, indeléveis, mas estultas. Se abrirão teus poros cálidos, minha mãe, ao orgânico esquecimento, e nós, instantes apenas, não seremos, como blefes cujos intentos se consomem. Ninguém nos chorará. Antes o verme se regozijará, sedento; seremos, enfim, banquete – o soube, confesso, desde sempre. Não agradando a todos - aos de Lampião e aos de Viriato, simultaneamente -, agradaremos aos de zilz, soberbos hospitaleiros de eclético palato. Ficarão os cabelos, sujos, porcos, lembrando-nos, pertinentes.
Mas isso será depois... Só depois. Por ora, embaralho as cartas, capricho no corte... Dê-me a fortuna boas mãos. O lance é o momento. E o jogo é esse.

Um comentário:

  1. Violento este texto, porem verdadeiro.
    Que nossas mesas estejam agora fartas de prazeres.
    Depois seremos pó onde os vermes se escondem nesse interior de barro desfeito.

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"Seja bem vindo quem vier por bem."