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19 março 2012

Mac


         "Meu amor, como estás? Fazia tempo!, oh, tanto tempo!, que saudades!", e Mac, calado, movimento algum, vermelho (natural, não de quem se vê envergonhado), estático, humor inconstante, cedente apenas momentaneamente a breves rajadas de vento, balanço resumido, instantes em que de vida seu amor se enche, Mona se anima, tamanha alegria!, "meu Deus, Mac, como te amo!, amanhã... Não, amanhã não posso, trabalho, saio tarde, só talvez no final de semana", e beija-o, pé inseguro no topo da escada, fatalidade, amaldiçoado ósculo, a coitada cai... Mac não se digna ajudá-la, continua quieto enquanto Mona a custo se levanta, "Ai!, tou sangrando", cabeça rasgada, e tonta e desamparada tira o celular da bolsa, "alô, por favor, uma ambulância...", uns e outros se aproximam, ajudam, "coloque esse lenço, tome", "meu Deus, menina, o golpe é bem grande, como que você fez isso?", Mona fala, a custo, mas fala, "a gente tava namorando", as pessoas estranham, se perguntam em silêncio, cadê o namorado?, Mac é aquele cara que ninguém nota, ninguém dá conta, tonta, tonta, tonta, metade dela cedeu ao desmaio, olhos semicerrados, e quando a ambulância chega, solta um gemido "amo-te", a metem dentro do carro, hospital, doze pontos, dói que só o diabo!, "tá sozinha?", pergunta o doutor, "estou, sim, doutor, Mac não pôde vir, muito trabalho", fica a noite em observação, garrafa de soro guiada à veia, dorme, sonha, e nesse sonho a moça pensa, "valeu pelo beijo, Ai!, a textura, o toque, o cheiro dele, Ai!, Mac, Mac, Mac!", acorda, e sem qualquer relutância, à sua alma concede a certeza de que não mais pode viver sem ele, só nele pensa, só ele a alegra, só ele quer e deseja, "vou pedi-lo em casamento..." 
        Sai de manhã cedo do hospital, cabeça remendada, dia de licença, pega o ônibus na parada, está decidido, "a partir de hoje é meu noivo e daqui a pouco tempo meu marido", desce na Baixa, sorriso longo, foi capaz de vê-lo ao longe, apressa o passo, "Mac!, Mac!, Mac!, você quer casar comigo?, você quer?", Mac não fala, ela sabe, ele é fechado, e sabe também aquele velho ditado: "quem cala, consente"... E nesse mesmo dia ficaram noivos, oh, alegria!, não cabia em si de tanta felicidade, "Ai!, meu deus, imagina, eu casada!", riso feliz, gargalhada, contou pra todo mundo, todas as amigas, o bairro inteiro, convidou Deus e o mundo pra despedida de solteira, chorou, Ai!, felicidade essa que a invade... Amanhã... Amanhã se casa com o letreiro... Do Mc Donald´s da Baixa, meu amigo...



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