O amor é uma espécie de
presente – bem embrulhado, papel vistoso, escolhido com brio – que você oferece
ao outro. Depois de realmente ofertado, o que esse outro faz com ele não
depende mais de você.
Alguns há que o
valorizam, que se demoram em contemplações, que, em uma espécie de êxtase, uma
e outra vez o admiram e se servem dele. Tão agradecidos ficam que presente de
igual valor lhe retornam. E fazem-no alguns por obrigação, outros porque têm a
percepção do quão é significativo serem amados, do quão é sublime e digno de
amor aquele outro os amar. Amam quem os ama. Que nobre reciprocidade! Acreditam
que saber amar é saber deixar alguém amá-los.
Outros há que desdenham
do presente. Recebem-no com um sorriso fosco mal disfarçado. Não é aquilo que
queriam e não lhes tem nem terá qualquer valor ou serventia. Você empenha todas
as suas forças e energias, dá tudo de si, dá tudo que tem e não logra mais que
uma tímida simpatia e camuflada comiseração. Seu presente pesa-lhes sobre os
ombros. Não fossem as imposições de uma ao menos mediana educação e o jogariam
no chão na hora da oferenda. Gritariam, batendo os pés: seu amor para que me
serve?! Para quê? Para nada! Jogue isso fora! Leve de volta! Pegue! Esses
jogá-lo-ão a um canto, onde o pó e as aranhas tomarão conta. Com o tempo
(talvez muito tempo), você perceberá que seu presente foi, pura e simplesmente,
mal entregue.
Entre os que valorizam o
presente, há ainda aqueles que não são capazes da retribuição. O presente é
bom, gostam dele, mas não o apreciam o suficiente. É bom, mas não é exatamente
aquilo de que necessitam. Esses recebem-no com um ligeiro constrangimento.
Sabem que não serão capazes de oferecer o mesmo. Guardam-no, intocável, com uma
espécie de zelo canhestro. Eles merecem aquele presente (que bom!), mas seu
presente merece alguém melhor do que aquele que lhes ofertou. Ainda chegam a
lamentá-lo, “é uma pena, um presente tão bom, uma pessoa tão boa, mas que hei
de fazer?”. Nada. Não fazem nada. Seu presente será para eles uma espécie de
medalha.
Entre os que desdenham do
seu presente, há também um tipo de gente zombeteira, trocista, para quem sua
dádiva é motivo das maiores galhofas e ironias. Esses não o merecem, definitivamente,
mas você não tem como reconhecê-los. E isso é assustador. Você pode estar
oferecendo hoje, neste preciso momento, todo o seu amor; você pode estar se
oferecendo, completa e “animamente”, e do outro lado estar, nada mais, nada
menos que um receptor insensível, desumano, nojento. Esses farão graças, rirão
do seu presente à socapa. Ou até abertamente.
Por último, há aqueles
para quem o presente é na exata medida, aqueles para quem ele é ânsia, desejo,
felicidade, realização. Esses não querem outra coisa senão o que você lhes
oferece. Passavam dias admirando de longe, auscultando, interiormente se
contorcendo, adestrando suas vontades. Alguns deles não tiveram sequer, durante
muito tempo, coragem de verbalizar: eu quero! E eles queriam muito receber esse
presente das suas mãos. Oh, como queriam! Esses não valorizam nem desdenham.
Para eles, o presente é autêntico, é mágico, é um verdadeiro acontecimento. Não
agradecem ou retribuem o amor que se lhes dá. Não há motivo para agradecimento
ou retribuição. O que sentem está muito além disso. E não o disfarçarão seus
olhos, seu riso, tampouco sua linguagem corporal.
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