Não sei se acredito ou não nesse negócio de alma gêmea. Tem
uma parte de mim que quer acreditar, mas tem outra... Vamos ser sinceros, o
todo sempre acaba se dando mal. Cada vez que intimamente nisso me faço acreditar, seja por
causa da mina gostosa da academia, seja por causa da rapariga do
cruzamento da Seis com a Sete, me desiludo, elas dão pra outro cara.
Minha alma gêmea jamais daria pra outro cara! Jamais! Minha
alma gêmea não se deixaria enganar, jamais suporia que aquele cara grosseiro e
musculado do aparelho do lado fosse sua outra metade. Minha alma gêmea saberia
que sua cara metade jamais pagaria por sexo.
Mas minha alma gêmea não faz contato. Pudera, eu odeio telefone!
O pior é que a tal da gêmea alma não sai sequer de casa. Ui, difícil, hein?
Difícil será encontrar-me. Minha alma gêmea assiste televisão, lê, dorme...
Não, café, não. Odeia café! Às vezes ainda pensa em um e outro cigarro, mas “oh,
cheiro ruim”.
Ela ri com Costanza, das tolices de Woody Allen... E Miguelanxo?
Oh, ela conhece, claro. E sua própria vida é um “cotidiano delirante”.
Poesia... Devora poesia. Mas nem triste, nem
romântica. Simbólica? Não. Concreta e concisa. Tem imagem que fala. E se diz
muito em pouca palavra.
Um dia, no centro da cidade, tinha certeza, era ela. A gente
se olhou por instantes, demos as mãos e corremos pela praça.
Entramos numa
pastelaria.
- Você quer alguma coisa?
- Não...
- Uma coxinha?...
- Não...
- Uma queijada?...
- Não...
- Torrada?...
- Não...
- E “refrí”? Quer “refrí”?
- Não...
- Água?...
Recusou também. E eu não comprei nada.
Saímos e fomos sentar
num banquinho de madeira junto de um pequeno e lodoso lago no canto da praça.
Entre chilreios e silvos de pássaros ficamos ali a tarde toda, mudos, sem
graça. Que é que a gente deve falar para a alma gêmea? Não sei. Não tenho nem
ideia. Mas minha alma gêmea teria falado alguma coisa.
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