Seu Péssimo morreu
Fraque pronto, aprumado
Tão velho era, sua morte
Todo mundo entendeu
E ainda houve consolo
Pra esses vivos enlutados
Vai o homi pra lugar melhor
Paraíso tão ansiado
Oh, Deus, não chorem
Em vida, Deus, bem sabem
Má vida Seu Péssimo tinha
Foi pobre, mal amado
Escolaridade mínima
Sua vã mente traumatizada
Seu nome só dando briga
Esposa sua, Dona Ótima
Em tudo dele discordava
Na mobília, na cor da casa
Na educação dos filhos
Até na própria morada
Queria a Dona viver
Numa dessas praias nordestinas
Calor desmesurado, à vontade
Todo dia de todo ano
O velho não
Comprou a pronto um apê
Lá na marginal do tal Tietê
“Não faz tanto calor
Mas esse rio é mais humano”
Oh, Deus, fosse só isso!...
Caiu o pobre do homi
Em mais uma grande desgraça,
Dona Ótima, sempre simpática,
Era a todos muito dada
Vasilha debaixo do braço
Saía de casa de manhã cedo
“olha a cocada, olha a cocada”
Às vezes, tanto tardava
Que em sua vinda estava embuchada
E o Seu Péssimo, bigode fino,
Entre resmungos e gritos lá soltava
“Esse, tenho certeza, é filho do cão,
Tudo menos meu filho”
Misericórdia divina!
Se uniam os filhos à mãe
“Minha mãe não é rapariga!”
O pobre, sozinho e encurralado
Ainda, por vezes, rebatia
“Então, me expliquem
Faz pra lá de mês que ela saiu
E quando chega está nesse estado”
A confusão se generalizava
Todo mundo partindo pro tapa
Filhos, noras, vizinhos
Até o gringo que passava
Oh, Deus, confusão tamanha
Só acabava na polícia
“Cuidado, Seu Péssimo, cuidado
Como as coisas são você bem sabe
Seu Péssimo já tem ficha”
“Rapaz”, o velho falava
“De toda mulher do mundo
Mesmo as que me apelidem de burro
Nenhuma me fará nunca de otário”
Palmas, palmas, palmas
Velho sabido
Não tem sexto sentido
Mas tem nos chifres
Ondas de rádio
Voltavam pra casa
Tudo mudo e calado
A primeira palavra
Só pra lá de uma semana
E quando o bebê nascia
Os irmãozinhos sempre diziam
“Oh, que lindo!
Tem a cara de painho”
Ah, mas o velho Péssimo
Nenhum trote convencia
E até naquele extremo batia
O de rir de tanta farsa
Misturada a ridicularia
“Não fosse minha herança
Não tinha uma só companhia”
“Oh, homi, fala isso não
Tem por aí muita fruta podre
Como tem gente com coração”
Oh, não interessa!
É neste ponto da história péssima
Que à morte do homi me atenho
Seu Péssimo sepultado
Devidas orações e lágrimas
Correram os abutres pra casa
Façam-se por bem as partilhas
Que mais tempo não tenho
Mas, ai, Deus!, me desfaleço
Para o lar toda a herança
E a nós todas as dívidas?!
Chora agora a Ótima no túmulo
“Diz-me, Péssimo, isso mereço?”
O homi agora não fala,
Se falasse, deixou escrito,
O seguinte ia dizer:
“Quem te comeu a cocada
É que deve te manter.”
Morreu o dom Péssimo...?
ResponderExcluirse morreu um sobraram mil e um.
Por cada rico que rouba o pão dos pobres sobram muitos Péssimos de pé descalço.
Oi, Luís. A má notícia é essa: está Péssimo. Um abraço.
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