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19 abril 2012

História Péssima




Seu Péssimo morreu

Fraque pronto, aprumado

Tão velho era, sua morte

Todo mundo entendeu




E ainda houve consolo

Pra esses vivos enlutados

Vai o homi pra lugar melhor

Paraíso tão ansiado



Oh, Deus, não chorem

Em vida, Deus, bem sabem

Má vida Seu Péssimo tinha

Foi pobre, mal amado

Escolaridade mínima

Sua vã mente traumatizada

Seu nome só dando briga



Esposa sua, Dona Ótima

Em tudo dele discordava

Na mobília, na cor da casa

Na educação dos filhos

Até na própria morada



Queria a Dona viver

Numa dessas praias nordestinas

Calor desmesurado, à vontade

Todo dia de todo ano



O velho não

Comprou a pronto um apê

Lá na marginal do tal Tietê

“Não faz tanto calor

Mas esse rio é mais humano”



Oh, Deus, fosse só isso!...

Caiu o pobre do homi

Em mais uma grande desgraça,

Dona Ótima, sempre simpática,

Era a todos muito dada



Vasilha debaixo do braço

Saía de casa de manhã cedo

“olha a cocada, olha a cocada”

Às vezes, tanto tardava

Que em sua vinda estava embuchada



E o Seu Péssimo, bigode fino,

Entre resmungos e gritos lá soltava

“Esse, tenho certeza, é filho do cão,

Tudo menos meu filho”



Misericórdia divina!

Se uniam os filhos à mãe

“Minha mãe não é rapariga!”



O pobre, sozinho e encurralado

Ainda, por vezes, rebatia

“Então, me expliquem

Faz pra lá de mês que ela saiu

E quando chega está nesse estado”



A confusão se generalizava

Todo mundo partindo pro tapa

Filhos, noras, vizinhos

Até o gringo que passava

Oh, Deus, confusão tamanha

Só acabava na polícia



“Cuidado, Seu Péssimo, cuidado

Como as coisas são você bem sabe

Seu Péssimo já tem ficha”



“Rapaz”, o velho falava

“De toda mulher do mundo

Mesmo as que me apelidem de burro

Nenhuma me fará nunca de otário”



Palmas, palmas, palmas

Velho sabido

Não tem sexto sentido

Mas tem nos chifres

Ondas de rádio



Voltavam pra casa

Tudo mudo e calado

A primeira palavra

Só pra lá de uma semana



E quando o bebê nascia

Os irmãozinhos sempre diziam

“Oh, que lindo!

Tem a cara de painho”



Ah, mas o velho Péssimo

Nenhum trote convencia

E até naquele extremo batia

O de rir de tanta farsa

Misturada a ridicularia

“Não fosse minha herança

Não tinha uma só companhia”



“Oh, homi, fala isso não

Tem por aí muita fruta podre

Como tem gente com coração”



Oh, não interessa!

É neste ponto da história péssima

Que à morte do homi me atenho



Seu Péssimo sepultado

Devidas orações e lágrimas

Correram os abutres pra casa

Façam-se por bem as partilhas

Que mais tempo não tenho



Mas, ai, Deus!, me desfaleço

Para o lar toda a herança

E a nós todas as dívidas?!



Chora agora a Ótima no túmulo

“Diz-me, Péssimo, isso mereço?”



O homi agora não fala,

Se falasse, deixou escrito,

O seguinte ia dizer:

“Quem te comeu a cocada

É que deve te manter.”









2 comentários:

  1. Morreu o dom Péssimo...?
    se morreu um sobraram mil e um.
    Por cada rico que rouba o pão dos pobres sobram muitos Péssimos de pé descalço.

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    1. Oi, Luís. A má notícia é essa: está Péssimo. Um abraço.

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"Seja bem vindo quem vier por bem."