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07 abril 2012

Necrológio dos desiludidos do amor (de Carlos Drummond de Andrade)

Os desiludidos do amor
estão desfechando tiros no peito.
Do meu quarto ouço a fuzilaria.
As amadas torcem-se de gozo.
Oh quanta matéria para os jornais.
Desiludidos mas fotografados,
escreveram cartas explicativas,
tomaram todas as providências
para o remorso das amadas.
Pum pum pum adeus, enjoada.
Eu vou, tu ficas, mas nos veremos
seja no claro céu ou turvo inferno.
Os médicos estão fazendo a autópsia
dos desiludidos que se mataram.
Que grandes corações eles possuíam.
Vísceras imensas, tripas sentimentais
e um estômago cheio de poesia.
Agora vamos para o cemitério
levar os corpos dos desiludidos
encaixotados competentemente
(paixões de primeira e segunda classe).
Os desiludidos seguem iludidos,
sem coração, sem tripas, sem amor.
Única fortuna, os seus dentes de ouro
não servirão de lastro financeiro
e cobertos de terra perderão o brilho
enquanto as amadas dançarão um samba
bravo, violento, sobre a tumba deles.



2 comentários:

  1. Não conhecia esse poema de Drummond*
    É um poema sinistro, parece zombar da morte e dos desiludidos do Amor; "será que tantas viúvas alegres sambam sobre a tumba deles?"
    Achei muito interessante.
    Te desejo um bom domingo de Páscoa, Paz!
    beijos da Mery*

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    Respostas
    1. Oi, Mery. Do que conheço de Drummond, esse é o que mais gosto, sem dúvida. Talvez porque a ironia seja das coisas que mais "me gusta" ver no papel. Boa Páscoa para você também. Um abraço.

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"Seja bem vindo quem vier por bem."