Na maioria dos casos, fico-me pelo livro, o original, como lhe chamo. Alice no País das Maravilhas de Tim Burton é para mim um bom exemplo. Apesar de toda a magia e de toda a ambiência própria do realizador, fantástico, sim, o filme ficou muito aquém do livro, muito mesmo. Senhor dos Aneis é outro bom exemplo. Tolkien escrevia muito e, de tanto que escrevia, difícil é transpor para a tela todo seu mundo com todas suas criações e nuances.
O livro sempre ganha do filme (e penso que nisso todos estarão de acordo), num aspecto: o imaginário. Enquanto que no livro nós criamos e fazemos nossas construções mentais e idealizações, pensamos como será este ou aquele personagem ou este ou aquele cenário com base nas descrições do autor (e como nos entretém fantasiar e reconstruir e imaginar), no filme é-nos dado conhecer a ideia que o realizador/produtor do filme faz desses mesmos cenários e personagens. (ponto para o livro. Lol)
Mas para quem disse que não discutiria o que é melhor, se livro ou filme, já me alonguei demais.
Hoje trago o conto "A menina dos fósforos" de Hans Christian Andersen, que encontrei ontem mesmo num outro blog, e uma animação "The Little Matchgirl", que reconheci ser baseada nesse mesmo conto.
Deixo em primeiro lugar o conto, ele é o início, a origem, e em seguida o curta animado. Do que vocês gostam mais, isso é com vocês.
A menina dos fósforos (de Hans Christian Andersen)
Fazia tanto frio! A neve não parava de cair e a
noite aproximava-se. Aquela era a última noite de Dezembro, véspera do dia de
Ano Novo. Perdida no meio do frio intenso e da escuridão, uma pobre rapariguinha
seguia pela rua fora, com a cabeça descoberta e os pés descalços. É certo que
ao sair de casa trazia um par de chinelos, mas não duraram muito tempo, porque
eram uns chinelos que já tinham pertencido à mãe, e ficavam-lhe tão grandes,
que a menina os perdeu quando teve de atravessar a rua a correr
para fugir de um trem. Um dos chinelos desapareceu no meio da neve, e o outro foi apanhado
por um garoto que o levou, pensando fazer dele um berço para a irmã mais nova
brincar.
Por isso, a rapariguinha seguia com os pés
descalços e já roxos de frio; levava no avental uma quantidade de fósforos, e
estendia um maçodeles a toda a gente que passava, apregoando: — Quem compra fósforos bons e baratos? — Mas o dia
tinha-lhe corrido mal. Ninguém comprara os fósforos, e, portanto, ela ainda não
conseguira ganhar um tostão. Sentia fome e frio, e estava com a cara pálida e
as faces encovadas. Pobre rapariguinha! Os flocos de neve caíam-lhe sobre os
cabelos compridos e loiros, que se encaracolavam graciosamente em volta do
pescoço magrinho; mas ela nem pensava nos seus cabelos encaracolados. Através
das janelas, as luzes vivas e o cheiro da carne assada chegavam à rua, porque
era véspera de Ano Novo. Nisso, sim, é que ela pensava.
Sentou-se no chão e enrolou-se ao canto de um
portal. Sentia cada vez mais frio, mas não tinha coragem de voltar para casa,
porque não vendera um único maço de fósforos, e não podia apresentar nem uma
moeda, e o pai era capaz de lhe bater. E afinal, em casa também não havia
calor. A família morava numa água-furtada, e o vento metia-se pelos buracos das
telhas, apesar de terem tapado com farrapos e palha as fendas maiores. Tinha as
mãos quase paralisadas com o frio. Ah, como o calorzinho de um fósforo aceso
lhe faria bem! Se ela tirasse um, um só, do maço, e o acendesse na parede para
aquecer os dedos! Pegou num fósforo e: Fcht!, a chama espirrou e o fósforo
começou a arder! Parecia a chama quente e viva de uma candeia, quando a menina
a tapou com a mão. Mas, que luz era aquela? A menina julgou que estava sentada
em frente de um fogão de sala cheio de ferros rendilhados, com um guarda-fogo
de cobre reluzente. O lume ardia com uma chama tão intensa, e dava um calor tão
bom! Mas, o que se passava? A menina estendia já os pés para se aquecer, quando
a chama se apagou e o fogão desapareceu. E viu que estava sentada sobre a neve,
com a ponta do fósforo queimado na mão.
Riscou outro fósforo, que se acendeu e brilhou, e o
lugar em que a luz batia na parede tornou-se transparente como tule. E a
rapariguinha viu o interior de uma sala de jantar onde a mesa estava coberta
por uma toalha branca, resplandecente de loiças finas, e mesmo no meio da mesa
havia um ganso assado, com recheio de ameixas e puré de batata, que fumegava,
espalhando um cheiro apetitoso. Mas, que surpresa e que alegria!
De repente, o ganso saltou da travessa e rolou para o chão, com o garfo e a
faca espetados nas costas, até junto da rapariguinha. O fósforo apagou-se, e a
pobre menina só viu na sua frente a parede negra e fria.
E acendeu um terceiro fósforo. Imediatamente se encontrou
ajoelhada debaixo de uma enorme árvore de Natal. Era ainda maior e mais rica do
que outra que tinha visto no último Natal, através da porta envidraçada, em
casa de um rico comerciante. Milhares de velinhas ardiam nos ramos verdes, e
figuras de todas as cores, como as que enfeitam as montras das lojas, pareciam
sorrir para ela. A menina levantou ambas as mãos para a árvore, mas o fósforo
apagou-se, e todas as velas de Natal começaram a subir, a subir, e ela percebeu
então que eram apenas as estrelas a brilhar no céu. Uma estrela maior do que as
outras desceu em direcção à terra, deixando atrás de si um comprido rasto de
luz.
«Foi alguém que morreu», pensou para consigo a
menina; porque a avó, a única pessoa que tinha sido boa para ela, mas que já
não era viva, dizia-lhe muita vez: «Quando vires uma estrela cadente, é uma
alma que vai a caminho do céu.»
Esfregou ainda mais outro fósforo na parede: fez-se
uma grande luz, e no meio apareceu a avó, de pé, com uma expressão muito suave,
cheia de felicidade!
— Avó! — gritou a menina — leva-me contigo! Quando
este fósforo se apagar, eu sei que já não estarás aqui. Vais desaparecer como o
fogão de sala, como o ganso assado, e como a árvore de Natal, tão linda.
Riscou imediatamente o punhado de fósforos que
restava daquele maço, porque queria que a avó continuasse junto dela, e os
fósforos espalharam em redor uma luz tão brilhante como se fosse dia. Nunca a
avó lhe parecera tão alta nem tão bonita. Tomou a neta nos braços, e soltando
os pés da terra, no meio daquele resplendor, voaram ambas tão alto, tão alto,
que já não podiam sentir frio, nem fome, nem desgostos, porque tinham chegado
ao reino de Deus.
Mas ali, naquele canto, junto do portal, quando
rompeu a manhã gelada, estava caída uma rapariguinha, com as faces roxas, um sorriso
nos lábios… morta de frio, na última noite do ano. O dia de Ano Novo nasceu,
indiferente ao pequenino cadáver, que ainda tinha no regaço um punhado de
fósforos. — Coitadinha, parece que tentou aquecer-se! — exclamou alguém. Mas
nunca ninguém soube quantas coisas lindas a menina viu à luz dos fósforos, nem
o brilho com que entrou, na companhia da avó, no Ano Novo.
A Pequena Vendedora de Fósforos (da Disney)
E aí, papel ou película?
Indistintamente lindo, né?
See you!
Quase que choro com a pequena vendedora,
ResponderExcluirlindo também é o solo do violino.
beijos!
Concordo. A trilha sonora é massa. Abraço.
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