Se meu pai e minha mãe gostam de mim eu não sei, espero que sim, sei que já perdi milhões de tempo pensando, medindo, como se fosse possível, decifrando, pesando cada movimento, cada atitude deles, porra, eu queria ser amado!, entende?, mimado, protegido, o preferido, oh, ser o predileto encheria minhas medidas, e eu, vamos ser honestos, sou mais bonito que Fabinho, meu irmão caçula, mais inteligente, ele tem dificuldade de aprendizado, e o que sabe sou eu que ensino, mas pronto, não me enalteço por isso, sou melhor, e daí?, quem fala verdade não merece castigo, dizia minha avó, e são precisamente essas verdades que doem um pouco, não que eu seja cabeça dura ou cismático, pai tem sempre um preferido, não acredito nesse negócio de gostar dos dois igual, e o meu... Espera, não, não estou aflito, eu falo...
Meu pai só tem elogio pra Fabinho, Filho, você jogou muito bem hoje, Ah, danado, como tou orgulhoso!, Olha, Marta, dez em Biologia (colado, assim é fácil), Ah, isso sim é uma nota de verdade, ainda vai ser um médico famoso, Imagina, filho, você fazendo transplante, eu fico na sombra, é meu canto preferido da casa, o sofá de pele sujo e rasgado perto da porta de meu quarto, visão privilegiada pra tela, me atiro num balde de pipoca, filme foda esse, velho, será que vão descobrir que foi o irmão que matou o cabra?, que nada, cara, me ressoa impertinente do outro lado do cérebro, o cara foi esperto, a madrasta, besta, é que vai levar com a culpa, e eu, tímido, sim, ainda não tinha dito, tem uma parte de mim que é assim, tímida, introspetiva, retraída, penso, "faltava essa"...
Acho que seu irmão caçula esta mais necessitado de apoio. Quem sabe ele precise de cafuné mais que você tem ideias brilhante.
ResponderExcluirQuando leio um texto deste penso que quando o escritor era criança falava sozinho e tinha muitos amigos invisíveis.
Beijos!!