Cem anos de Gonzaga. Certo. Até aí tudo bem. O rei do baião,
o incrível tocador de sanfona, o pai de temas tão brasileiros como Asa Branca ou Baião de dois. Mas eis que, entre muitas manifestações de apreço e
idolatria, uma me chamou particularmente a atenção: Gonzaga foi o maior
artista nordestino, dito com afinco, mais ou menos assim, podendo nem ser bem essas as
palavras, mas querendo dizer isso mesmo.
Ok, está certo. Não vou refutar completamente tal
observação. Mas, me ocorre lembrar que o Nordeste é terra de, entre outros,
Chico César, Tom Zé, Zé Ramalho, Elba Ramalho, Chico Science, Caetano Veloso,
Maria Bethânia, Gilberto Gil, Gal Costa, Jorge Amado, Ivete Sangalo, José
Wilker, Wagner Moura, João Gilberto, Chico Anysio,
Leandro Gomes de Barros, Ariano Suassuna, João Cabral de Melo Neto, Câmara
Cascudo, Manuel Bandeira...
Eu sei, alguns aqui nomeados, não são nem de perto
comparáveis a Gonzaga. Pelo menos na cabeça de alguns de vocês. Embora sejam grandes atores, músicos e por aí em diante.
Mas, se por um lado, há esses que distintamente conseguimos diminuir
comparativamente ao rei do baião, há outros que não me parece lhe devam ou
fiquem atrás na sua importância e méritos. E aí entraríamos numa discussão sem
fim, a do tal maior nordestino, a do mais importante artista nordestino, bla,
bla, bla, bla, bla, bla. Discussão inconclusiva, seria fácil de adivinhar.
Pois, se minha razão pende para Suassuna ou Bandeira, a sua poderá pender para
Chico Science, Cabral de Melo Neto ou outro nem aqui referido.
E como chegarmos a um consenso, se de um lado uns cantam “às
vezes no silêncio da noite”, ao passo que outros sabem “como pisar no coração de
uma mulher”? , se uns se extasiam com Auto da Compadecida e outros com Morte e
Vida Severina? , se uns preferem o Roque Santeiro e outros o Capitão
Nascimento? Impossível! E nunca nenhum de nós estará certo ou errado. Gonzaga
foi o maior para esse senhor que babadamente o fala na TV. Gonzaga foi o maior
para quem aprecia o baião, o toque certeiro da sanfona. Gonzaga é o maior para
quem gosta de forró pé-de-serra, pra quem gosta da música popular do sertão
brasileiro. Mas, e quem tem maior apreço pela literatura que pela música,
pensará o mesmo?
Discussões à parte, aproveitemos o talento de cada um deles.
Do Gonzaga na sanfona, do Anysio no riso, do Cascudo no folclore, do Wagner na
interpretação, do Jorge no romance... E com a certeza de que todos eles são os
maiores nordestinos, maiores nos seus talentos e aptidões, tão grandes como os
professores, os médicos ou os juízes que dia após dia lutam por um Nordeste
melhor.
E eu fico com Leandro Gomes de Barros. E nem vem!, ninguém
muda minha opinião.
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