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14 dezembro 2019

O amor: um presente


O amor é uma espécie de presente – bem embrulhado, papel vistoso, escolhido com brio – que você oferece ao outro. Depois de realmente ofertado, o que esse outro faz com ele não depende mais de você.
Alguns há que o valorizam, que se demoram em contemplações, que, em uma espécie de êxtase, uma e outra vez o admiram e se servem dele. Tão agradecidos ficam que presente de igual valor lhe retornam. E fazem-no alguns por obrigação, outros porque têm a percepção do quão é significativo serem amados, do quão é sublime e digno de amor aquele outro os amar. Amam quem os ama. Que nobre reciprocidade! Acreditam que saber amar é saber deixar alguém amá-los.
Outros há que desdenham do presente. Recebem-no com um sorriso fosco mal disfarçado. Não é aquilo que queriam e não lhes tem nem terá qualquer valor ou serventia. Você empenha todas as suas forças e energias, dá tudo de si, dá tudo que tem e não logra mais que uma tímida simpatia e camuflada comiseração. Seu presente pesa-lhes sobre os ombros. Não fossem as imposições de uma ao menos mediana educação e o jogariam no chão na hora da oferenda. Gritariam, batendo os pés: seu amor para que me serve?! Para quê? Para nada! Jogue isso fora! Leve de volta! Pegue! Esses jogá-lo-ão a um canto, onde o pó e as aranhas tomarão conta. Com o tempo (talvez muito tempo), você perceberá que seu presente foi, pura e simplesmente, mal entregue.
Entre os que valorizam o presente, há ainda aqueles que não são capazes da retribuição. O presente é bom, gostam dele, mas não o apreciam o suficiente. É bom, mas não é exatamente aquilo de que necessitam. Esses recebem-no com um ligeiro constrangimento. Sabem que não serão capazes de oferecer o mesmo. Guardam-no, intocável, com uma espécie de zelo canhestro. Eles merecem aquele presente (que bom!), mas seu presente merece alguém melhor do que aquele que lhes ofertou. Ainda chegam a lamentá-lo, “é uma pena, um presente tão bom, uma pessoa tão boa, mas que hei de fazer?”. Nada. Não fazem nada. Seu presente será para eles uma espécie de medalha.
Entre os que desdenham do seu presente, há também um tipo de gente zombeteira, trocista, para quem sua dádiva é motivo das maiores galhofas e ironias. Esses não o merecem, definitivamente, mas você não tem como reconhecê-los. E isso é assustador. Você pode estar oferecendo hoje, neste preciso momento, todo o seu amor; você pode estar se oferecendo, completa e “animamente”, e do outro lado estar, nada mais, nada menos que um receptor insensível, desumano, nojento. Esses farão graças, rirão do seu presente à socapa. Ou até abertamente.
Por último, há aqueles para quem o presente é na exata medida, aqueles para quem ele é ânsia, desejo, felicidade, realização. Esses não querem outra coisa senão o que você lhes oferece. Passavam dias admirando de longe, auscultando, interiormente se contorcendo, adestrando suas vontades. Alguns deles não tiveram sequer, durante muito tempo, coragem de verbalizar: eu quero! E eles queriam muito receber esse presente das suas mãos. Oh, como queriam! Esses não valorizam nem desdenham. Para eles, o presente é autêntico, é mágico, é um verdadeiro acontecimento. Não agradecem ou retribuem o amor que se lhes dá. Não há motivo para agradecimento ou retribuição. O que sentem está muito além disso. E não o disfarçarão seus olhos, seu riso, tampouco sua linguagem corporal.

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