Dizem as más línguas,
Mais frequentes que sol de meio dia,
Em tempos houve um castelo
Na praia do Meio
Pra lá do que os olhos viam,
Alto e forte, imponente,
De abrigo ao rei Carmelo servira,
Meio que familiar de duende.
Mas essa característica do soberano
Por aí não se alardeava,
Outra, sim, era motivo de alarde.
Diziam as más línguas,
Mais frequentes que sol da tarde,
Carmelo, todo poderoso,
Levantava ondas e tempestades.
Não tinha semblante raivoso,
Era antes simpática sua figura,
Mas a modos que a aparência engana,
Todo defeito ser mundano procura.
"Aquela barba longa, branca
A mim não me engana,
É coisa de gente estranha
De conluio co capeta."
"Traz ele no pé mais bicho
Que toda a Mata Atlântica.
Não sei como pode isso!,
Humano não é,
Morria de tanto visco."
"Sempre que o mar se assanha
É vê-lo na torre,
Como comandante na proa...
Tão safado é,
Não chega nem a ter vergonha."
E era isso...
José Bendito
Todo santo dia ouvia,
Do berço à rede,
Da infância à maturidade,
Más línguas alardeando maldade...
E era tanto dito e repito,
Que só podia ser verdade.
"Ai, Deus, a meu pai mal não faça,
Que eu perco a compostura
E rei e mar serão castigados,
Assim será minha fúria."
E os anos passaram...
Barco vai, barco vem,
Um dia se passa desgraça.
Ondas gigantes, qual monstro
Do cabo das tormentas,
Viram o barco de Tonho das Rocas,
o amado pai de José Bendito.
Oh, Deus, a desgraça!
Não havia força de braços que o salvasse,
E o filho, impotente, tomado de raiva,
Nas areias da praia gritava:
"Meu Deus, por que isso?"
Mas eis que o rei Carmelo
Do alto de seu castelo se lança
E se desfaz na espuma seu semblante sereno,
Coragem tamanha!, duas braçadas
E era junto do náufrago.
"Se segure em mim."
E o homem, temerário,
Mais nada palpou senão cabelos,
E assim mesmo deu à praia,
Ofegante, mas vivo e salvo.
Todos em volta se juntaram,
Salve! Salve,
Senhora dos navegantes!
E Antes mesmo que dessem conta
Carmelo era onde era antes,
Na proa da torre,
Sereno e pensante,
Esse mar é seu,
Não lhe faz medo.
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