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26 janeiro 2012

O Sistema Do Doutor Tam e Do Professor Fether (de Edgar Allan Poe)

     Desde que me decidi pela postagem nesse espaço de trabalhos que não fossem meus, tenho deambulado na rede, buscando aquilo que mais me agrade, peneirando, trabalho farto e cansativo, uma ou outras vezes achando algo de relevo, outras, maioria das vezes, nem por isso, mas desta vez achei algo muito de meu agrado, um conto de um autor, que me é querido e por quem tenho a maior admiração, em tudo diferente do que dele conhecia. Imaginem Poe fazendo humor, para lá dessa imagística do fantástico e do terror, fazendo uso requintado da ironia e do sarcasmo, envolvido e nos envolvendo também a nós nesse intrigante "sistema suave", e o resultado será "o sistema do doutor Tam e do professor Fether".


SISTEMA DO DOUTOR TAM E DO PROFESSOR FETHER


    

     Durante o outono de 18... fazendo um tour pela Provence, no Sul da França, meu trajeto levou-me a algumas milhas de uma certa Maison de Santé, ou uma casa de loucos privada sobre a qual muito ouvira falar em Paris, da parte de alguns médicos, amigos meus. Como nunca havia visitado um lugar deste gênero, achei a oportunidade boa demais para não aproveitá-la; e assim propus ao meu companheiro de viagem (cavalheiro com quem travara relações havia poucos dias) que fizéssemos um pequeno desvio do caminho, de cerca de uma hora ou mais, a fim de dar uma olhada naquele estabelecimento. Idéia que ele rejeitou - dizendo primeiro que tinha muita pressa e, em segundo lugar, que tinha um verdadeiro e muito comum horror na presença de um lunático. Ele quase me implorou, no entanto, para que eu não sacrificasse a minha curiosidade a um sentimento de cortesia para com ele, acrescentando que iria seguir caminho, cavalgando devagar, de maneira que eu pudesse alcançá-lo no mesmo dia ou, quando muito, no dia seguinte. Mas, ao nos despedirmos, lembrei-me da dificuldade que eu poderia ter no acesso ao estabelecimento e comentei com ele a este respeito.
     Ele me respondeu que, de fato, se eu não conhecia pessoalmente o Sr. Maillard, o diretor, nem levava comigo carta de apresentação, poderia muito bem ter dificuldades de lá entrar, porque os regulamentos daquelas casas particulares de malucos eram muito mais severos do que os hospícios públicos. Mas como ele conhecia um pouco o Sr. Maillard, resolveu me acompanhar até a porta e me apresentar a ele; embora seus sentimentos em relação à loucura não lhe permitiriam que entrasse na casa.
      Agradeci-lhe e, saindo da estrada principal, entramos por um atalho que em cerca de meia hora nos levou para dentro de uma floresta espessa aos pés de uma montanha.
     E através daquela mata densa e sombria andamos cerca de duas milhas até avistarmos a Maison de Santé. Era um castelo fantástico e meio decadente e, a se julgar pela deterioração externa, devia ser quase inabitável. O seu aspecto me inspirou tal sentimento de pavor que estive a ponto de não seguir em frente e retornar. Mas envergonhei-me da minha própria fraqueza e segui em frente.
     Ao entrarmos no portal, percebi-o já entreaberto e um rosto que nos olhava. No instante seguinte, o homem se aproximou, saudou meu companheiro pelo nome, apertou-lhe a mão cordialmente e convidou-o a que apeasse. Era o próprio Sr. Maillard, um verdadeiro cavalheiro de outros tempos: bela presença, de aspecto nobre, maneiras polidas e certo ar de seriedade, dignidade e autoridade que cativava simpatia e impunha respeito.
     Meu amigo então apresentou-me; e depois de mencionar a minha vontade de visitar seu estabelecimento, e de o Sr. Maillard prometer atendê-la com a maior atenção possível, despediu-se de nós. Nunca mais tornei a vê-lo.
     Logo o diretor me fez entrar numa pequena sala elegantemente mobiliada, onde se viam, entre outros indícios de um gosto refinado, grande quantidade de livros, desenhos, vasos de flores e instrumentos musicais. Um bom lume ardia na lareira. Uma moça bonita, vestida de luto fechado e sentada ao piano, cantava uma ária de Bellini.
     Levantou-se quando entramos e veio me receber com uma cortesia cheia de graça. A voz era baixa. Pensei também ter percebido traços de tristeza e melancolia em seu semblante que era por demais, embora, pelo meu gosto, não desagradavelmente pálido. Parecia sob profundo luto, o que provocou em meu peito uma sensação combinada de respeito, interesse e admiração.
     Tinham-me dito em Paris que o estabelecimento do Sr. Maillard obedecia a um preceito conhecido vulgarmente como "sistema suave", isto é, evitava-se o sistema de castigos, a reclusão era pouco empregada e os doentes, vigiados secretamente, gozavam aparentemente de perfeita liberdade, podendo até mesmo, a maior parte deles, circular por todo o prédio e pelo jardim, como se fossem pessoas de pleno juízo.
      Lembrando-me desses pormenores, cuidei das minhas palavras na presença da moça de luto porque nada me garantia que ela tivesse o juízo perfeito. Pelo contrário, havia nos seus olhos certo brilho intermitente que me induzia quase a acreditá-la louca. Limitei, pois, as minhas observações a assuntos gerais ou àqueles que julguei incapazes de desagradar ou de excitar mesmo uma lunática. A moça respondeu a tudo o que eu disse de um modo inteiramente sensato; e as suas observações pessoais testemunhavam mesmo critério de raciocínio; mas um longo estudo sobre a metafísica da mania havia-me ensinado a desconfiar de semelhantes evidências de saúde mental, e continuei a usar a prudência durante toda nossa conversação.
      Eis que um criado muito elegante, de libré, trouxe uma bandeja cheia de frutas, vinhos e refrescos, dos quais me servi com prazer; a moça logo se despediu. Assim que ela se retirou, dirigi ao Sr. Maillard um olhar de interrogação.
      - Não, disse ele. Ah, não!... Ela é da minha família... minha sobrinha, uma Senhora perfeita.
     - Ah, meu senhor, peço-lhe mil perdões pela minha desconfiança. A excelente orientação desta casa é muito conhecida em Paris; assim, imaginei que não seria impossível... O senhor compreende, não é mesmo?
     - Sim, sim! Não falemos mais nisso; sou eu que tenho de lhe agradecer a louvável prudência com que se portou, coisa rara em gente moça. E mais de uma vez tivemos de lamentar alguns acidentes bem desagradáveis, causados pela irreflexão dos visitantes. Na época em que ainda aplicávamos meu primeiro sistema, e quando os doentes tinham o privilégio de andar por toda parte, bem à vontade, acontecia algumas vezes de caírem em crises perigosas, devido à irreflexão de alguns visitantes. Foi por isso que acabei adotando um sistema mais rigoroso de exclusão, em conseqüência do qual as pessoas que sabemos discretas são admitidas a nos visitarem.
     - Como assim, na época do seu primeiro sistema? - disse eu, repetindo as palavras do próprio Maillard. - Então o tal "sistema suave" de que tanto me falaram já não é mais aplicado na sua casa?
     - Não, senhor - replicou ele. - Há algumas semanas que decidimos abandoná-lo para sempre.
     - Fala sério?
     - É verdade - disse ele, suspirando. - Foi absolutamente necessário voltarmos aos processos antigos. O "sistema suave" era um perigo constante, e as suas vantagens não eram tantas quanto pareciam. Não pode haver uma experiência mais honesta do que a que se fez nesta casa, onde se praticou tudo o que a humanidade pode racionalmente sugerir. Lamento que não nos tenha visitado antes, para poder julgar pessoalmente. Mas conhece todos os tratamentos do "sistema suave", não é mesmo?
     - Não, senhor. O pouco que sei foi simplesmente por ouvir dizer.
     - Vou contar em poucas palavras como era o sistema. A base principal era não contrariar o doente, deixá-lo fazer a sua vontade. Não contradizíamos nenhuma fantasia que entrasse no cérebro do louco. Ao contrário, não só éramos indulgentes a esse respeito como os encorajávamos; e muitas de nossas curas permanentes foram efetivas.
     Não existe argumento que toque mais a frágil razão dos alienistas do que o reductio ad absurdum [redução ao absurdo]. Tivemos alguns homens, por exemplo, que fantasiavam serem galinhas. A cura consistia em insistir nisso como se um fato fosse - acusar o paciente de estupidez caso não percebesse o tempo todo isso como uma realidade e daí recusar-lhe qualquer dieta semanal que não constasse da dieta das galinhas. Nesses casos, um pouco de milho podia operar milagres.
     - Mas o sistema constituía apenas na aquiescência à loucura?
     - Não. Tínhamos também bastante fé em certos divertimentos simples, como música, dança, ginástica em geral, cartas, mesmo alguns livros, e assim por diante... Cuidávamos de tratar cada indivíduo como se tivesse uma doença física qualquer; e nunca usávamos a palavra "lunático" ou "louco". Um ponto importante era incumbir cada louco de vigiar todos os demais; depositar confiança na inteligência ou na discrição de um louco é conquistá-lo por inteiro. Isso nos trazia ainda a vantagem de dispensarmos uma categoria muito dispendiosa, que é a categoria dos guardas.
     - E não havia nenhum tipo de punição?
     - Não.
     - E nunca confinavam nenhum paciente?
    - Raramente. Quando a doença de alguém se transformava em crise, virando um acesso de fúria, nós o levávamos para uma cela particular, já que a sua desordem mental poderia contaminar os demais doentes, e lá o mantínhamos até que pudesse voltar ao convívio coletivo. No caso dos maníacos raivosos, nada tínhamos a fazer. Geralmente ele era removido para os hospícios públicos.
     - E agora o senhor reverteu toda esta situação - e acha que para melhor?
    - Com certeza. Meu sistema tinha suas desvantagens, e mesmo seus perigos. Felizmente, agora ele foi extinto em todas as Maisons de Santé da França.
    - Estou bastante surpreso - disse eu. - Pois eu tinha a impressão de que nenhum outro sistema de tratamento para loucura como este existia no resto do país.
       - Você ainda é jovem, meu amigo - respondeu o diretor -, mas vai chegar o tempo em que poderá julgar por você mesmo o que acontece no mundo, sem confiar no disse-me-disse dos outros. Não acredite em nada do que você escutar e só na metade daquilo que você estiver vendo. Sobre nossa Maison de Santé, parece que algum mal-informado andou fazendo sua cabeça. Depois do jantar, depois de você se recuperar de sua fadiga da viagem, terei o maior prazer em mostrar-lhe a nossa casa e de introduzi-lo a um sistema que, na minha opinião, e na de todos aqueles que testemunharam sua operacionalidade, é efetivamente o melhor de todos.
     - Seu também? - perguntei. - Um sistema inventado pelo senhor?
     - Sou obrigado a reconhecer que sim, pelo menos em grande parte.
     Foi assim que eu conversei com o Dr. Maillard por uma ou duas horas, enquanto ele me mostrava os jardins e a conservação do lugar.
     - Não posso deixá-lo ver meus pacientes por enquanto - disse ele. - Para uma mente sensível sempre existe algum tipo de choque neste tipo de exibição; e não pretendo privá-lo de seu apetite. Gostaria que jantasse comigo. Posso oferecer-lhe uma vitelinha à la Sainte-Menechould, couve-flor à la sauce velouté, com um bom copo de Clos de Vougeôt. Que tal? Depois disso seus nervos estarão mais fortalecidos.
     Às seis, o jantar foi anunciado; e Dr. Maillard me conduziu a uma vasta salle à manger, com uma enorme comitiva, cerca de umas trinta pessoas. Pareciam finos e bem educados, embora mostrassem certos requintes de vestuários, fausto e impróprio para a ocasião. Pelo menos dois terços dos convivas eram de senhoras, algumas vestidas de uma maneira muito diferente da que o parisiense está habituado a considerar de bom gosto. Muitas delas, que não tinham menos de setenta anos, estavam decotadas e de mangas curtas, com uma profusão extraordinária de jóias. Observei que muito poucas daquelas roupas eram bem feitas e que a maior parte delas não combinavam com as pessoas que as vestiam. Logo percebi o interesse da moça que o Sr. Maillard me apresentara na sala: e admirei-me de vê-la ataviada a um enorme vestido de anquinhas, uns sapatos de saltos altos e uma touca velha de rendas de Bruxelas, tão grande para ela que dava à sua fisionomia uma aparência ridícula de pequenez.
     O vestido de luto pesado, com o qual eu a vira antes, lhe caía incomparavelmente melhor. Havia, em suma, no toalete daquelas senhoras todas, um ar de esquisitice que me remeteu à minha idéia original do "sistema suave", a qual o Sr. Maillard tentava me fazer ver, pouco antes do jantar, que não era como eu pensava ser, e me vi jantando justamente com aqueles lunáticos todos; mas me lembrei que em Paris me informaram de que os sulistas da Provence eram particularmente excêntricos, com vastas noções antiquadas de tudo; e então, ao conversar com vários dos convivas, minhas apreensões foram-se desvanecendo por completo.
     A própria sala de jantar, confortável e imensa, não tinha elegância alguma. O chão não tinha tapete (é verdade que, na França, muito se dispensam os tapetes). As janelas não tinham cortinas; as portas das janelas, quando fechadas, eram trançadas com barras de ferro, na diagonal, como se usa nas lojas. Observei que aquela dependência formava uma das alas do château, e assim as janelas ocupavam três dos lados do paralelogramo, situando-se a porta no quarto lado; não havia menos de dez janelas ao todo.
     A mesa estava esplendidamente servida. Coberta de baixelas de prata e mais do que repleta de comidas. A profusão de manjares era bárbara. Nunca na minha vida contemplara eu um luxo tão suntuoso das boas coisas da vida. Havia, no entanto, muito pouco bom gosto nos arranjos; e meus olhos, acostumados a luzes mornas, sentiram-se agredidos pelo prodigioso esplendor de uma multidão de velas colocadas em candelabros de prata sobre a mesa e espalhados pela casa, por toda a parte. Um grupo de criados atentos servia o jantar. Numa mesa, aos fundos da sala, sete ou oito pessoas com violas, flautas, trombone e um tambor. Elas muito me incomodavam, durante o jantar, com uma infinita variedade de barulhos que se pretendia música e que parecia dar muita diversão a todos os presentes, exceto a mim, claro.
     Em suma, tudo o que eu estava vendo era notoriamente bizarro; mas afinal o mundo é composto de todo tipo de pessoas, com maneiras e modos de pensar os mais diversos, e cujos costumes são perfeitamente convencionais. E eu, bem, havia viajado o bastante para ser um bom adepto do nihil admirari. Tranqüilamente tomei o meu lugar à direita do dono da casa e, com um bom apetite, honrei perfeitamente a ótima ceia.
     As conversas eram animadas e sobre assuntos gerais. As senhoras, conforme o costume, falavam muito; percebi logo que a sociedade era composta de pessoas bem educadas.
     O Sr. Maillard era um manancial de anedotas engraçadas. Falava com toda a liberdade da sua posição de diretor de uma casa de alienados. E para minha surpresa, a loucura era o tema favorito de todos os convivas.
     - Tivemos uma pessoa aqui - disse o gordinho à minha direita - que se imaginava um bule de chá; e por falar nisso, não é incrível que essa particular mania entre tantas vezes nos cérebros dos lunáticos? Dificilmente existe um hospício na França que não apresente um bule humano. O nosso era um bule de fabricação inglesa. Todos os dias, pela manhã, ele mesmo tinha o cuidado de se polir com uma camurça.
     - Teve um outro - contou um cavalheiro alto, que se achava à minha frente - com a mania de ser um burro, o que, falando metaforicamente, não deixava de ser verdade. Era um paciente rebelde e que dava muito trabalho. Durante muito tempo não queria comer nada que não fosse capim; e ele foi curado porque não deixamos que ele comesse outra coisa. Ficava sempre batendo com os calcanhares no chão... assim... olhe... assim...
     - Sr. Kock! - interrompeu uma velha senhora sentada ao lado do orador. Faça o favor de ficar quieto! O Sr. acabou de estragar o meu rico vestido de brocado com seus pontapés. Nosso visitante entende muito bem o que o senhor está dizendo sem demonstrações físicas. E a sua imitação é perfeitamente natural! O senhor é quase tão burro quanto o pobre insensato que procura imitar...
     - Mille pardons, minha senhora - respondeu o Sr. Kock -, mil perdões! A minha intenção não era de modo algum ofendê-la. Dê-me a honra de beber uma taça de vinho comigo.
     O Sr. Kock então inclinou-se, beijou cerimoniosamente a sua própria mão e bebeu um copo de vinho com a senhorita Laplace, que assim se chamava a velha senhora.
     - Permita-me sugerir-lhe, mon ami - disse o Sr. Maillard, dirigindo-se a mim. Prove desta vitela à la Sainte-Menechould ...
     Três criados fortes acabavam de colocar sobre a mesa, sem incidente, um enorme prato contendo algo que imaginei primeiro ser o monstrum horrendum, informe ingend cui lumen ademptum; mas que num exame mais atento me confirmou ser apenas uma vitela assada, inteira, apoiada sobre os joelhos e com uma maçã entre os dentes, segundo costuma-se servir a lebre na Inglaterra.
     - Não, obrigado - disse eu. - Para falar a verdade, não tenho predileção pela vitela à la... como se chama? Peço-lhe a gentileza de provar antes um pouco de coelho.
      - Pierre! - gritou o dono da casa. - Mude o talher deste senhor e sirva-lhe um bocado de lapin au chat.
     - Coelho o quê? - exclamei eu.
     - Coelho ao gato.
    - Está bem, obrigado. Pensando melhor, não sinto mais vontade de comer coelho. Um pouco deste presunto me cairá bem.
     Na verdade, pensava eu, esta gente da Provence é capaz de comer de tudo! Não quero provar o seu coelho "ao gato" pela mesma razão que não provaria o seu chat au lapin.
     - Depois - disse um personagem de rosto cadavérico, ao fundo da mesa, reatando o fio da conversa -, entre outras esquisitices, de tempos em tempos tivemos um paciente que se julgava queijo de Córdova, e que andava sempre de faca na mão convidando seus amigos a cortar-lhe um pedaço da coxa para provarem.
     - Era um louco e tanto - interrompeu outro conviva -, mas não se pode comparar com aquele homem que dizia ser uma garrafa de champanhe e que começava seus discursos com pan... pan... e pschi... i ... i - e o orador pôs o dedo polegar na boca e retirou-o bruscamente imitando o estouro de uma rolha; depois, com um destro movimento da língua sobre os dentes, imitou a fermentação da champanhe.
     Maneira de explicar assaz grosseira, achei, e ela também não foi do agrado do Sr. Maillard; mas ele teve a delicadeza de nada dizer, e a conversa foi retomada por um homem muito pequeno e muito magro, com uma grande cabeleira:
     - E houve um imbecil que se dizia uma rã, animal aliás com quem ele muito se parecia, para dizer a verdade. O senhor precisava ter visto a figura - e era a mim que ele se dirigia. - A naturalidade de sua imitação era extraordinária! Chegava a dar pena que aquele homem não fosse uma rã de verdade. Ele coaxava mais ou menos assim: o... o... gh... o... gh...! Era a nota mais bela do mundo! E em si bemol! E quando ele colocava os cotovelos em cima da mesa, assim, depois de ter bebido um ou dois copos de vinho, e dilatava a boca assim ó, exatamente como estou fazendo agora, e piscando-os com grande rapidez, assim, olhe; pois bem, senhor, posso afirmar que teria caído em êxtase diante do talento daquele homem!
     - Não duvido - respondi.
     - Havia um outro - disse outro conviva - que por força queria ser uma pitada de tabaco; e vivia numa tristeza enorme por não poder segurar a si mesmo entre o índex e o polegar.
     - E o Jules Deshoulières, que era um gênio bastante singular e que endoideceu com a mania de ser abóbora. Vivia perseguindo o cozinheiro para que o transformasse em purê, pedido ao qual o cozinheiro se recusava com indignação. Até acredito que uma torta à Deshoulières deveria ser um manjar dos mais delicados.
     - É espantoso o que o senhor diz! - exclamei, lançando ao Sr. Maillard um olhar de interrogação.
     - Há! Há! He! Hi! Hi! - redargüiu ele. - ótimo, ótimo. Não se assuste, meu caro; o nosso amigo aqui é muito original, um grande comediante. Não se pode levar ao pé da letra tudo o que ele diz.
     - Conhecemos também Buffon-Legrand - falou outro conviva -, um personagem extraordinário no gênero. Enlouqueceu por causa do amor. Ele imaginava ter duas cabeças. Uma, dizia ele, era a de Cícero; a outra era composta, sendo a de Demóstenes da testa até a boca, e a de Lorde Brougham, da boca até a ponta do queixo. Não era impossível que ele se enganasse, mas com certeza ele teria convencido a todos com suas palavras, porque era um homem de rara eloqüência. Sua paixão pela oratória chegava a tal ponto que não conseguia evitar de demonstrá-la. Por exemplo, ele tinha a mania de saltar para cima da mesa e depois...
     Neste momento, alguém sentado ao seu lado segurou-lhe o ombro e disse-lhe algumas palavras ao ouvido; o outro parou repentinamente de falar, voltando a sentar.
     - Depois - disse seu amigo, aquele que falava baixo - teve ainda Boulard, o pião. Sua mania singular, mas não destituída de toda da razão, era que o havia transformado em um pião. O senhor teria morrido de rir se o visse girando por horas e horas sobre um calcanhar só, deste modo, veja...
     Então o amigo que o havia interrompido, pagou-o com a mesma moeda, dando-lhe algum tipo de conselho ao pé do ouvido.
     - Mas então - gritou uma senhora velha, de voz irritante - esse Sr. Boulard era um louco, um louco bastante estúpido. Ora, me digam: quem já ouviu falar de um pião humano? Nada mais absurdo! Madame Joyeuse, todos nós sabemos, era uma pessoa mais sensata. É verdade que tinha também lá a sua mania: era uma mania inspirada pelo senso comum e que divertia quem tivesse a honra de conhecê-la. Pois aquela senhora descobrira, depois de amadurecidas reflexões, que havia sido por acidente transformada em galo; mas na qualidade de galo, ela se comportava normalmente. Batia as asas, assim, assim, com um grande esforço e seu canto era divino: Cocorocó... cocoricó... cocococoricó, có... có...
     - Madame Joyeuse, peço-lhe que se acalme - interrompeu o dono da casa com certa rispidez. - Se não pode se portar decentemente como convém a uma senhora, saia da sala imediatamente. A escolha é sua!
     A senhora (que eu fiquei espantado de ouvir chamar de Madame Joyeuse, depois da descrição que ela mesma fizera de Madame Joyeuse) corou até as orelhas, bastante humilhada com a repreensão. Abaixou a cabeça e não emitiu uma sílaba sequer.
     Então outra senhora, a mesma moça bonita que conheci na sala, continuou a conversação:
     - Ora, Madame Joyeuse era uma boba! Mas fazia muito sentido a opinião de Eugènie Salsafette. Era uma mulher moça e formosa, ar modesto e melancólico, que achava indecente o modo comum de se vestir e gostava sempre de se vestir saindo, e não entrando para dentro da roupa. É uma coisa fácil de se fazer, você precisa apenas de fazer isso, e depois isto e depois isto e depois isto...
     - Mon Dieu! Mademoiselle Salsafette! exclamaram umas duas vozes ao mesmo tempo. - O que está fazendo? Pronto! Chega! Já vimos como se pode fazer isto! Chega! Chega!
     - E algumas pessoas se levantaram para evitar que Mademoiselle Salsafette se pusesse em traje da Vênus de Milo, o que finalmente conseguiram, auxiliadas por uma porção de gritos e urros vindos de alguma parte do prédio.
     Meus nervos viram-se bastante afetados por gritos vindos lá de fora; mas os demais convivas sofreram ainda mais. Nunca vi um grupo razoável de pessoas tão apavorado assim na minha vida. Todos ficaram pálidos como cadáveres e, encolhidos nas suas cadeiras, temendo e titubeando de terror e aguardando a repetição dos gritos Eles continuaram surgindo, mais altos e como que se aproximando; ouviram-se logo por uma terceira vez mais forte ainda; e enfim, numa quarta vez, com um vigor decrescente. Frente à calmaria aparente da tempestade, todos recuperaram-se de espírito e as anedotas recomeçaram com mais ênfase. Atrevi-me então a perguntar a causa de semelhante gritaria externa.
     - Simples detalhe, une bagatelle - disse o Sr. Maillard - ao qual estamos tão acostumados que nem lhe damos grande importância. Os loucos, de vez em quando, começam a gritar em coro, excitando-se mutuamente, como acontece com freqüência com um grupo de cães durante a noite. Às vezes este concerto de urros é seguido de um esforço simultâneo de todos para fugir. Neste caso, é sempre preciso a nossa interferência.
     - Quantas pessoas presas tem agora?
     - Não mais de dez, no momento.
     - Mulheres em geral?
     - Não. São todos homens muito vigorosos.
     - É mesmo? Pois eu sempre ouvi dizer que a maioria dos loucos pertencia ao belo sexo.
     - É o que em geral acontece; mas não sempre. Há anos, tínhamos aqui uns vinte e sete loucos, dos quais uns dezoito eram mulheres; mas ultimamente as coisas mudaram, como se vê.
    - Sim... mudaram muito, como se vê - interrompeu o cavalheiro que havia ferido as tíbias de Mademoiselle Laplace.
     - Sim... mudaram muito, como se vê - repetiram todos em coro.
     - Segurem essas línguas! Ouviram bem?! - gritou meu anfitrião, num acesso de raiva.
     Frente a estas palavras, toda a assembléia observou um silêncio de morte durante um minuto. Houve uma senhora que, seguindo a ordem do Sr. Maillard ao pé da deixou a língua de fora, uma língua bem comprida, e agarrou-a com as duas mãos conservando-a assim, com muita resignação, até o fim do jantar.
    - Aquela senhora - disse eu ao Sr. Maillard, inclinando-me e murmurando-lhe ao ouvido -, aquela excelente senhora que falava ainda agora, com seus cocoricós, é inofensiva, não é, perfeitamente inofensiva? Quer dizer, ela só está ligeiramente atacada - disse eu, apontando para a testa - e não perigosamente afetada.
     - Mon dieu! O que imagina o senhor? Esta senhora, minha velha e particular amiga, Madame Joyeuse, é tão normal quanto eu. Ela tem lá suas excentricidades, claro, como, você sabe, todas as mulheres de idade são mais ou menos excêntricas!
     - Certamente... certamente. Mas as demais senhoras e cavalheiros...
     - São todos meus amigos e meus guardiões - interrompeu o Sr. Maillard, perfilando-se com altivez -, meus ótimos amigos e assistentes.
     - Como? Todos? - perguntei. - As mulheres e os demais?
     - Certamente - disse ele. - Não poderíamos manter este lugar sem as mulheres; elas são as melhores enfermeiras lunáticas do mundo; elas têm lá a maneira delas, entende; seus olhos brilhantes têm um efeito maravilhoso, alguma coisa assim como a fascinação das serpentes, entende?
     - Entendo, certamente. Elas se comportam de uma forma meio estranha, são meio esquisitas, não lhe parece?
     - Estranhas! Esquisitas! Você acha isso seriamente? Falando a verdade, nós, gente aqui do Sul, não somos nada pretensiosos; fazemos sempre o que nos agrada; e todos estes hábitos que o senhor acha originais, entende... E depois esse vinho Vougeot é um pouco generoso, compreende, um pouco quente demais...
     - Claro, claro - disse eu. - E depois o senhor já me disse que o sistema adotado em substituição ao "sistema suave" era de um severo rigor!...
     - Não, eu não disse isso. A reclusão é necessariamente rigorosa; mas o tratamento, o tratamento médico, quero dizer, é até agradável para os doentes.
     - E é também inventado pelo senhor esse outro sistema?
     - Não, em absoluto. Algumas partes do sistema devem ser atribuídas ao professor Tam [Breu], sobre quem o senhor necessariamente já ouviu falar; e houve modificações no meu plano que fico feliz em atribuir ao célebre Fether [Pena], com quem, se não me engano, o senhor tem a honra de se relacionar intimamente.
     - Sinto-me constrangido de confessar que eu nem sequer ouvi falar antes de nenhum desses cavalheiros.
     - Meu Deus do céu! - exclamou o Sr. Maillard, empurrando sua cadeira para trás e levantando as mãos. - Será que eu ouvi direito? O senhor não pretendeu dizer, hein, que nunca ouviu falar nem do renomado Doutor Tam nem do célebre Professor Fether?
     - Sou obrigado a confessar minha ignorância - respondi. - No entanto sou humilde por não conhecer a obra destes dois. Sem dúvida, homens extraordinários. Vou procurar seus escritos e estudá-los com redobrada atenção. Mas Sr. Maillard, o senhor realmente conseguiu, preciso confessá-lo, conseguiu realmente que eu sentisse vergonha de mim mesmo!
     E era a pura verdade.
     - Não falemos mais nisso, meu jovem - disse ele, gentilmente, pressionando minha mão. - Acompanhe-me num gole deste Sauterne.
     Bebemos. E todos os convivas seguiram nosso exemplo. Eles falavam, riam gesticulavam, folgavam e cometiam mil absurdos. As rabecas rangiam, o tambor aumentava seus tantantâs, os trombones mugiam como touros de Phalares, toda aquela cena exasperava-se cada vez mais, à medida que o vinho imperava sobre todos, convertendo-se a cena numa espécie de pandemônio in petto. Enquanto isso, o Dr. Maillard e eu mesmo, com algumas garrafas de Sauterne e de Vougeôt em comum, prosseguimos nossa conversa alteando a voz. Uma palavra falada em tom normal teria a mesma chance de ser escutada que a voz de um peixe nas cataratas do Niágara.
     - Mas, senhor - disse, quase gritando no seu ouvido -, o senhor mencionou antes do jantar a respeito do perigo que incorriam no velho "sistema suave". Como assim?
     - Ocasionalmente - disse ele -, havia grande perigo, sim. É impossível prever todos os caprichos de um louco; e na minha opinião, assim como na do Dr. Tam e do Prof. Fether, não é nem um pouco prudente deixá-los circular o tempo todo sem vigilância. Um lunático pode ser "suave", como foi chamado o método por uns tempos, mas, ao fim e ao cabo, acaba por provocar distúrbios. A sua capacidade de manha também é grande e proverbial. Quando tem um plano na cabeça, ele concebe seu desempenho com uma sabedoria formidável; e a destreza com que imitam a sanidade oferece, aos metafísicos, um dos problemas mais singulares para o estudo da mente. Quando um louco aparece totalmente saudável, é o momento de colocá-lo numa camisa-de-força.
     - Mas qual o tal perigo de que falava? Já teve uma experiência pessoal deste tipo? Já teve uma razão objetiva para considerar a liberdade como perigosa no caso da loucura?
     - Certamente que sim. Há pouco tempo, quando o sistema "suave" estava ainda em vigor e os lunáticos gozavam de total liberdade... Bem, o comportamento deles era excelente e daí uma pessoa experiente teria podido deduzir que aqueles malandrões andavam tramando algum plano demoníaco. Pois bem, numa bela manhã, os guardiões foram encontrados nas celas, de pés e mãos atados, vigiados pelos próprios loucos que haviam usurpado a função dos guardas.
     - Não diga? Nunca ouvi nada de mais absurdo na vida!
     - De fato. E tudo isso foi obra de um estúpido, um doido que tinha a mania de ter inventado o melhor sistema de governo que se podia imaginar (o governo dos doidos, bem entendido). E propondo-se a fazer a experiência de sua invenção, persuadiu os demais doentes a juntarem-se a ele numa conspiração a fim de derrubar o poder reinante.
     - E conseguiu?
     - Sem dúvida. Os guardiões e os guardados tiveram respectivamente de trocar de posição, com o detalhe importante de que os loucos foram liberados e os guardas imediatamente seqüestrados nas celas e tratados, é preciso que se reconheça, de maneira bastante cavalheiresca.
     - Mas deduzo que uma contra-revolução logo se formou. Uma coisa destas não pode durar muito. Os camponeses da vizinhança, visitantes do hospício, teriam dado o alarme.
     - É aí que o senhor se engana. O chefe da rebelião era esperto demais e não admitiu a presença de visitantes. Uma única exceção, num dia, foi a de um cavalheiro de aspecto muito estúpido a ponto deles não terem razão de temê-lo. Eles deixaram que ele visse as dependências para se divertir um pouco com ele. Mas depois de terem desfrutado da cara dele, deixaram que fosse embora.
     - E quanto tempo durou o reinado dos loucos?
     - Muito tempo, na verdade cerca de um mês. Enquanto isso, os loucos puseram de lado suas roupas surradas e avançaram à vontade no guarda-roupa da família; nem as jóias lhes escaparam; em seguida dirigiram-se para as adegas do château e não é que os diabos desses loucos são entendedores de vinho e sabem beber muito bem. Enfim, viveram à tripa forra, isso eu posso lhe garantir.
     - E o tratamento? Qual o tipo de tratamento que o chefe mandava aplicar?
    - Bem, quanto a isso, um louco não é necessariamente um bobo; e é a minha modesta opinião que o sistema de tratamento deles era bem melhor do que o nosso. Era um tratamento asseado, sem confusões, realmente delicioso; era...
     Aqui as observações do dono da casa foram bruscamente cortadas por outra leva de gritos externos. Desta vez as vozes vinham de pessoas se aproximando.
     - Pela bondade divina! - gritei. - Os loucos sem dúvida estão soltos!
     - Era o que eu mais temia - disse o Sr. Maillard, subitamente pálido. Ele mal terminou a frase, antes de ouvirmos gritos, berros e insultos atrás das janelas; e em seguida, tornara-se evidente que algumas pessoas do lado de fora forçavam a entrada. A porta era agredida com o que parecia ser um martelo acionado com uma pródiga violência.
     Seguiu-se uma cena de horrível confusão. O Sr. Maillard, para meu espanto, jogou-se para debaixo da mesa. Esperava mais poder de comando em suas mãos. Os membros da orquestra que, nos últimos quinze minutos pareciam bêbados demais para cumprir suas funções, escalaram a mesa próxima e agarraram-se a seus instrumentos, começando com um só acorde a tocar Yankee Doodle, executando a música se não com harmonia pelo menos com uma energia sobre-humana, durante o tempo todo em que a desordem reinou.
     No entanto, o cavalheiro a quem tinham impedido de saltar para cima da mesa, saltou nela desta vez, no meio das garrafas e dos copos, e começou logo um discurso que pareceria de certo de ótima qualidade se alguém tivesse conseguido escutá-lo. Na mesma hora, o homem que nos mostrara sua predileção pelo pião, desatou a girar em roda da sala, de braços abertos, fazendo ângulo reto com o corpo e com tal energia que se teria dito um pião verdadeiro empurrando e deitando por terra tudo o que se encontrava na sua passagem. Ouvi então estalos incríveis e assobio de champanhes e não demorei a perceber que aquele barulho provinha do indivíduo que, durante o jantar, tão bem representara seu papel de garrafa. Ao mesmo tempo, o homem-rã coaxava com toda a força, como se a salvação de sua alma dependesse de cada nota que proferisse. Em meio a tudo aquilo, dominando todos os outros barulhos, reinava o zurrar contínuo de um burro. Quanto à minha conhecida amiga, Madame Joyeuse, em pé num canto da sala junto ao fogão, ela contentava-se em cantar o mais alto que podia o seu cocoricó!
     E então chegou a hora do clímax - a catástrofe do drama. Como não havia resistência, além de urros e cocoricós, cerca de dez janelas foram arrebentadas quase que ao mesmo tempo. Jamais esquecerei minhas próprias sensações de espanto e horror ao ver saltar pela janela e jogar-se para o meio de nós outros, acionando os pés, as mãos e as garras, um verdadeiro exército de monstros uivantes, que à primeira vista me pareceram chimpanzés, orangotangos ou enormes mandris negros do Cabo da Boa Esperança.
     Recebi uma terrível cacetada, rolei sobre um sofá e lá fiquei estirado. Depois de uns quinze minutos, porém, durante os quais eu escutei com todos os meus ouvidos o que estava acontecendo, cheguei enfim a uma explicação satisfatória para aquela tragédia. Monsieur Maillard, ao que parece, ao me revelar a história do lunático que levara seus colegas à rebelião, estava apenas relatando suas próprias proezas. Este cavalheiro, cerca de uns três anos atrás, havia sido, sim, o diretor do asilo; mas acabou ele próprio enlouquecendo e tornara-se paciente. Fato que não era do conhecimento do meu companheiro de viagem que nos apresentou. Os guardiões, cerca de dez, tendo sido vencidos, foram untados de breu (tarr) e bem cobertos de penas (fether) e depois trancafiados nas celas do porão. Ficaram prisioneiros por cerca de um mês, e durante este período Monsieur Maillard generosamente permitiu que dessem a eles não só breu e penas (o que constituía seu "sistema"), mas também pão e água. Água que era bombeada para eles diariamente. Por fim, um deles conseguiu escapar por um cano e restituiu a liberdade para os demais.
     O "sistema suave", com importantes modificações, foi retomado no château; no entanto preciso concordar com Monsieur Maillard de que seu próprio "tratamento" era o máximo. Como mui justamente ele observou, era "simples, limpo e delicioso: não dava trabalho".
     Não tenho senão poucas palavras a acrescentar. Procurei em todas as bibliotecas da Europa as obras do doutor Breu e do professor Pena e, apesar de todos os meus esforços, não consegui, até o dia de hoje, obter um só exemplar.

Um comentário:

  1. Sensacional!!/Puro Romantismo!! - Marcio Silva de Almeida/Jlle-SC

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"Seja bem vindo quem vier por bem."