1.
Oi, diz. Sorriso esperto, olho feliz. Mostra-me o
brinquedo. Um carro da Hot Wheels. Ontem era um Ferrari F40, hoje um Mercedes CLK. Conversíveis os dois. Sempre
assim. Todo dia um modelo diferente. Caminhão, furgoneta, esportivo, clássico.
É doido por carrinho, atalha a avó. Eu sorrio. Aqui dentro uma coisa me diz: preciso comprar confeito.
- Rudolfo... Vem, amor, vem...
Puxa-me pelo braço. Desanimado. Preguiçoso. És mesmo. São
duas da tarde já. Faz um esforço. Faço. Faço. Grande. Esforço medonho. Tu não
sabes, Amélia, mas o lugar mais lindo fica dentro de ti. Ela ri. Doido. Sou,
sim. E confessa: também queria lá ir.
3.
Imagina meu coração de papel. Um origami. Com
dobragens. Múltiplas dobragens. Vincas. Ora perfeitas. Ora tênues. Imaginou?
Sim. E pegou uma folha de ofício sobre a mesa. Para! Gritei. Tem de ser
em papel reciclado. Calou. Não era pra ela se calar, mas ela se calou. Não falou nada. Pegou a bolsa no sofá e saiu. Quando voltou trazia uma resma de papel ecológico setenta e cinco gramas. Meio fosco. Meio cinza. Branco sujo. E
agora? Perguntou. Agora vem a parte mais difícil. Nem eu sei bem as dobras que
ele tem. Poxa, Robério, assim não dá, né? Não tem mal, faz um avião.
4.
Esse cigarro aí no cinzeiro, de quem é? O moço, robusto,
grosseiro, com uma voz mais grosseira ainda, falou, é meu. E o fumo, moço, é de
quem?
Nenhum comentário:
Postar um comentário
"Seja bem vindo quem vier por bem."