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06 outubro 2012

Fábula da cobra mirrada



Cobra Elisa fugiu do mato
Todo mundo co-bra da cobra
Oh, meu Deus, quanto aparato!

Se ajuntaram velhos e novos
Cuspindo cobrança e promessas
Fugiu a pobre da cobra às pressas
Falavam “eu juro, a mato”

Fartos eram das hipotecas

Vigor enganoso não vale
Mais que brincadeiras sapecas
“Minha grana que se faz tarde”

Oh, Deus do céu, que é que eu faço?
Todin me cobra e não ganho
E se não ganho como pago?
Arre, todin me enchendo o saco

Eu, cobra Elisa apregoo 
Sou seletiva na picada
Não basta ser de perna boa
Mimosa ou bem torneada

Tem de ter afável mão
Paciente e bem carinhosa
Um tanto fraca da razão
Ora calma, ora perigosa

Uh! Simbora cobra fajuta

Pra lá com esse papo mala
Foge, corre, vive na gruta
Fraca ação não vale de nada



E tristin, tristinha, tristin
Cobra Elisa fugiu do mato
Dava dó de vê-la assim
Indiferente gato ou pato

Oxente, mas não pode ser
Que se vai definhando Elisa
Olhe, seu padre Iberê
Se jeito der rezo uma missa

A cobra meio que meio ateia
No início nem acreditou
Vivia só co a cara feia
Pobrezinha tanto mirrou

Fizesse sol ou não fizesse

O dia era de sesta infinda
Havia quem de longe viesse
Achavam sua tristeza linda

Mas o padre velho cismado

Se acabou de tanta reza
Passou meses ajoelhado
Conseguir a graça era certeza

Vixe, oh, Deus, nosso senhor
Ouve, meu Deus, minha súplica
Te rezo eu com tal fervor
Todo eu, Deus, de forma pudica

O diabo da cobra é ateia
Se mostre, senhor, a converta
E inda era a palavra meia
Deus danado a cobra concerta

Cabeça levantada, hábil
Se foder se é peluda perna
Meu momento é ora contábil
Ora mirrado na caverna

E nos céus se soltaram fogos
Fiu, fiu, fiu, pum, pum, pum, tá, tá
A cobra Elisa com bons olhos
Pelo menos inté amanhã



Aproveito pra falar que Roleta Russa, meu livro de contos, selo "eu amo escrever", com apoio Cantão e Livros Ilimitados, tem prevista a data de lançamento para 20 de novembro.



 

Um comentário:

"Seja bem vindo quem vier por bem."