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20 novembro 2012

Guia Breve, Porém Útil, À Desobediência Civil (Woody Allen)

       Para se fazer uma revolução, precisa-se de duas coisas: primeiro, alguém ou alguma coisa contra a qual se revoltar; segundo, alguém para fazer efetivamente a revolução. O traje é informal e ambas as facções devem ser inflexíveis a respeito do local e hora do evento. Mas, se nenhuma das partes comparecer, o fiasco será completo. Na Revolução Chinesa de 1650, nenhum dos partidos apresentou-se para a luta, com o que perdeu-se um grande estoque de munição.
        As pessoas que se revoltam contra os opressores são facilmente reconhecíveis, por serem as únicas que parecem estar se divertindo. Os opressores geralmente são obrigados a andar de terno e gravata, possuem terras e tocam suas vitrolas até tarde sem que ninguém possa reclamar. Sua função é a de manter o status quo, uma situação pela qual tudo fica exatamente como está, embora costume levar uma mão de tinta de dois em dois anos.
        Quando os opressores se tornam muito rígidos, passamos a ter o que se conhece como Estado policial- no qual proíbe-se discordar, dar risadinhas, usar gravata-borboleta e referir-se ao Sr. Prefeito como Bolão. As liberdades civis são extremamente limitadas num Estado policial, entre elas a liberdade de expressão, embora a arte da mímica continue permitida. Nenhuma crítica ao governo é tolerada, principalmente a respeito do estilo de dançar da primeira-dama. A liberdade de imprensa também é coibida, sendo o noticiário controlado pela Censura, a qual libera apenas as ideias políticas aceitáveis e certos resultados de futebol, desde que não causem comoção entre os torcedores.
        Os grupos que se revoltam são chamados de oprimidos e estão sempre se queixando de que trabalham muito ou de que vivem com enxaquecas. (Deve-se observar que os opressores nunca se revoltam ou tentam transformar-se em oprimidos, já que isto os obrigaria a mudar o estilo de suas cuecas.)

        Alguns famosos exemplos de revolução são:

        A Revolução Francesa, na qual os revolucionários tomaram o poder pela força e logo trocaram os cadeados de todos os palácios, para que os nobres não pudessem entrar. Em seguida, fizeram uma baita festa e guilhotinaram-se uns aos outros. Quando os nobres finalmente recapturaram os palácios, tiveram de fazer uma reforma geral, devido ao excesso de manchas nas paredes e tocos de cigarro pelo chão.
        A Revolução Russa, que se arrastou durante anos, só explodiu quando os bolcheviques finalmente concluíram que o Tzar e o Czar eram a mesma pessoa.
        Deve-se observar que, quando uma revolução termina, muitas vezes os oprimidos passam a comportar-se como os opressores, sendo dificílimo para os seus novos súditos conseguir falar com eles ao telefone, filar-lhes um cigarro ou tomar-lhes dinheiro emprestado.

        Alguns métodos de desobediência civil:

        Greve de fome. Quando o oprimido fica sem comer até que suas exigências sejam atendidas. Os opressores mais insidiosos costumam deixar bolachas ao alcance do oprimido, quando não queijos franceses, mas este tenta resistir a todo custo. Se o partido no poder conseguir obrigar o grevista a comer, isto significa que não terá muito trabalho para acabar com a insurreição. Se não apenas conseguir obrigá-lo a comer, como ainda fazê-lo pagar a conta, pode estar certo da vitória. No Paquistão, uma greve de fome foi encerrada quando o governo distribuiu uma série de pratos cordon bleu, que as massas acharam pouco político recusar. Mas isso é raro de acontecer.
        O problemas da greve de fome é que, depois de alguns dias, fica-se com uma bruta fome, e o governo então se aproveita para fazer com que todos os alto-falantes transmitam exclamações como “Hmmm... que delícia esta galinha...” ou “Pode me passar o molho?” ou “Já provou esta mousse?”
        Uma variação da greve de fome, para aqueles cujas convicções políticas não são das mais radicais, é a de recusar-se terminantemente a comer jiló. Esse pequeno gesto, quando usado com eficiência, pode influenciar profundamente um governo, sendo bem conhecido o caso de Mahatma Gandhi, cuja insistência em comer salada sem vinagre obrigou o governo britânico a muitas concessões. Além da comida, um grevista pode privar-se de muitas outras coisas, entre as quais jogar biriba, sorrir para o carcereiro ou imitar uma garça.
         
        Greve sentada. Quando uma pessoa escolhe um determinado lugar da fábrica e senta-se sem trabalhar. Mas, quando se diz “senta-se”, deve-se entender sentar mesmo, e não ficar de cócoras- uma posição sem menor significado político, a não ser que o governo também esteja de cócoras. (Certos governos vivem agachados diante de outros.) O objetivo é permanecer sentado até que o governo atenda às exigências do grevista. Como na greve de fome, os opressores tentarão por todos os meios fazer o grevista levantar-se. Poderão dizer: “OK, rapazes, hora de ir para casa!” ou “Podia levantar-se um pouquinho? Queria ver se você é mais alto do que eu”.
        
        Passeatas. A principal finalidade de uma passeata é a de ser vista pela população. Se uma pessoa faz sua passeata em casa, sozinha, isto será não apenas um erro político, como também uma demonstração de burrice.
        Uma clássica passeata foi a do Clube de Chá de Boston, na qual os nacionalistas americanos, disfarçados de índios, despejaram o chá britânico no mar. Mais tarde, índios disfarçados de americanos despejaram os próprios ingleses no mar. Em seguida, os ingleses, disfarçados de bules de chá, despejaram a si próprios no mar. Finalmente, um grupo de mercenários alemães, vestidos com os figurinos de As Troianas, jogaram-se no mar sem razão aparente.
        Durante uma passeata é conveniente levar faixas e cartazes, para deixar bem clara a posição dos manifestantes. Algumas sugestões de dizeres: 1) Abaixo os impostos; 2) Abaixo a inflação; 3) Abaixo a ditadura; 4) e vice-versa.

        Outros métodos de desobediência civil:
        
        Concentrar-se em frente ao palácio do governo e gritar a palavra “pudim” até que as exigências sejam atendidas.
        Engarrafar o trânsito da cidade conduzindo um rebanho de carneiros pela avenida na hora do rush.
        Telefonar a Membros do establishment e cantar alguma canção de protesto ou de ninar.
        Fazer-se passar por policial e então faltar ao serviço.
        Disfarçar-se de alcachofra e dedurar o nome do presidente da República aos serviços de informação.



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