Esse post de hoje, parecendo descabido ou irreal, não o é.
Começo por alertar que se trata de um e-mail que me enviaram do futuro. Sim, do
futuro. O futuro, embora ainda não exista, com certeza existirá. E, não me
perguntem como, surgiu na minha caixa de spam, datado de 13 de maio de 2083,
enviado por um senhor, pretensamente meu amigo, que dá pelo nome de Osório.
Transcrevo na integra para que vocês fiquem cientes (eu
levei a sério) de qual poderá ser o gênero literário que perpetuará a nossa
memória. E espantem-se aqueles, que como eu, julgavam que seria a poesia ou o
romance.
Oi, Ricardo, meu caro e fiel amigo.
Espero que esta mensagem te encontre de perfeita saúde, a ti
e à tua esposa e restante família. Família essa da qual tenho muitas saudades e
que espero reencontrar em breve. Sabes, amigo, que meu pequeno sítio está
sempre para vocês disponível.
Olha, amigo, eu por aqui continuo meus estudos da língua,
dessa língua portuguesa que tanto me apaixona e me toma todo o tempo.
Marineide, minha doce Marineide, morre de ciúmes. Acusa-me vezes sem conta de
não ter tempo para ela. Exagero. Sempre passo um pedacinho com ela. Mas olha,
amigo, o que te falarei talvez te surpreenda. É sobre a literatura de porta de banheiro.
Desatento, assim era e assim me defino. Não tenho outra
justificativa possível para tamanha falta. Alguém como eu, sedento de
literatura, de letra e de conhecimento, você sabe, ainda não ter dado conta,
não ter percebido o real e significativo valor da literatura de porta de
banheiro, roça o intolerável e imperdoável. Custa-me, sou franco, perdoar-me
tão grave falha. Sinto que julgava conhecer o que de fato ainda não conhecia, a
literatura em toda a sua essência e raiz.
Mas, talvez como forma de me desculpar, iniciei, após esse
meu conhecimento, esse acordar, uma profunda investigação, uma profunda recolha
de dados e de exemplos de trabalhos. Encontrei, como supunha, centenas,
milhares de obras, umas a caneta, preta ou azul, na sua maioria, outras a
marcador, traço fino e traço grosso, mais pretensioso, e outras ainda, talhadas
na madeira ou em metal, realizadas em sua maioria com precisos instrumentos de
corte e entalhe, com traços de uma perfeição sublime e de elevado grau
artístico. Curiosamente, depois de cuidadosa análise, notei que o instrumento
em causa, com o qual foram executadas tais obras, não foi uma goiva.
Ricardo, meu amigo, sinto como se tivesse despertado.
Comecei agora mesmo um estudo que prevejo me demorará uns largos anos, mas que
muito contribuirá para a língua portuguesa. Mas, estou apenas no início. Por
agora, procuro fontes. Procuro estabelecer relações. Não sei, por exemplo, se os
portugueses foi quem trouxeram essa corrente literária para nosso país. Até
agora, encontrei alguns vestígios um pouco reveladores, nomeadamente o vídeo
que lhe envio em anexo.
Também em anexo, envio alguns dados relativos a autores do
gênero. Como poderá ver, caro amigo, estamos perante o gênero literário de
maior expressividade, e aquele que, julgo eu, ultrapassará os limites do tempo,
que ficará para o futuro como a nossa memória.
Fico aguardando sua opinião. Um grande abraço, meu amigo. Espero-o aqui em Mato Grosso no
final do ano.
Anexo 1: Autores famosos da literatura brasileira de porta de banheiro
Lucas Flávio de Meireles, 12 anos, moreno, do RJ,
pai traficante, mãe desempregada, escreve em portas de banheiro. Seu mais
relevante trabalho é: "Paulinho dá o foreves".
Paulete Joana Silva Coelho, 14 anos, loira, da Igreja do Imaculado,
pai flanelinha, mãe doméstica, escreve em portas de banheiro. O seu mais
interessante trabalho é: "up and down balança o bundão".
Marciano Rúbio Medeiros, 12 anos, gordão, pai doutor, mãe madame, escreve
em portas de banheiro. É autor de um dos mais conceituados trabalhos no que
toca a literatura de banheiro: "minha rola voa ansiosa até tua boceta boa".
Gabriel Alves Buarque, 27 anos, transsexual, pai brincante, mãe camelô,
escreve em portas de banheiro. É um dos mais famosos autores de literatura popular
de porta de banheiro. Escreveu, entre outras coisas, o famoso poema "pra eu":
"pra eu ser assim/ não teve jeito nem tititi/ bastou imaginar correndo/ toda tua
gala até mim".
Pleyton Moreira de Assis, 53 anos, médico, pai aposentado da marinha, mãe
desaparecida, escreve em portas de banheiro. Usa técnica de entalhe. Sua mais
famosa obra está no banheiro do Tribunal de Jacarezinho: "juiz escroto deu pra
todos menos pra mim".
Anexo 2: O vídeo
É... realmente... literatura de porta de banheiro é muito importante...
ResponderExcluirAchei muito bom e, acima de tudo, muito engraçado - principalmente o anexo...
Abraço Covô, do Felipe...
viva o futuro da literatura!
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