Escovo as costas, afe, sujeira é foda, passo o xampú, ah!,
desse eu gosto, cheiro bom, escusado pedir, não vou falar a marca, toca a
campainha, sabia que não devia ter vindo tomar uma ducha agora, três da tarde,
quem diabos toma uma ducha a essa hora?, aiiiiiiiiiiiiiiiii, quer parar de
tocar, sua merda?, penso, vontade de soltar o grito, corro pra pegar a toalha,
porra!, puta que pariu!, cadê a merda da toalha?, Espera um pouco!, já vaaaaai!,
grito, corro pela casa, nu, a coisa se balançando, mole, meio sem vida, agora,
de manhã não foi assim, pego a toalha no guarda-roupa, a verde, odeio aquela
branca listrada, limpo, enxugo, Pooorra!, espeeeeeeeeere!, visto uma calça,
ligeiro, calço o chinelo, vou enfiando a camiseta no caminho da porta, Oi...,
Oi, eu sou Glória, promotora da Claro, posso entrar?, Claro!, Ela entra, olho
azul, anca larga, sorriso quenga, Oh, moço!, moço!, escuto do lado de fora,
Sim?, Oh, moço, eu sou Rogério, sou da empresa de energia, falaram que tem um
erro no contador, posso dar uma olhada?, Pode, sim, o contador é bem aí, aponto
a caixinha do lado de fora, nojento, Ah, moço, desculpa, tanto trabalho que até
confundo as coisas, sou não da energia, sou do combate à dengue, da prevenção,
dá pra dar uma olhada no depósito da água?, Eu já por essa altura meio que de
saco cheio, meio a contragosto faço o cara entrar, Prazer, Elias... Oi, eu sou
Samanta, prazer. Você quer ver esse plano aqui da Claro?, fala pra ele, eu meio
pasmo, meio sem saber o que acontece na minha sala, Ela não era Glória?, e ele
não era Rogério?, não estou entendendo, Vocês querem água?, pergunto, os dois
dizem que sim, Um calor danado lá fora, ele acrescenta, saio, pego a água na
cozinha, fria, gelada acaba com a minha garganta, Oi?, moça?, moço?!, a porta
da rua aberta, um murmúrio breve, quase imperceptível, Moça?, os dois saem
detrás de um arbusto na frente de casa, ele com uma tampa de refrigerante nas
mãos, Noooossa, senhor, você não pode deixar esses negócios por aí, isso
acumula água e pra virar um foco da doença é bem rapidinho, chove um pouquinho
e é um problema... Bem rapidinho, sei Rogério, bem rapidinho...
Você tá pensando
o mesmo que eu?
Uns dias depois, estou na fila de espera no posto de saúde,
escuto: “homi, veja só o que me aconteceu ontem. Estou em casa feliz da vida,
depois do trabalho, mulher longe, sabe, às vezes preciso de um descansozinho,
que ela dê umas voltas, me deixe no meu cantinho, gosto de tar assim quieto,
mas nisso batem palmas na porta, vou ver era uma moça bonita, galega, com uns
olhos claros, calça arrochada, falou um negócio que eu nem lembro o que e
perguntou se podia entrar, eu deixei, pois tá claro, nisso escuto um rapaz me
chamando, ‘sinhô!, sinhô!’, o cabra veio com um papo que era desse mosquito da
dengue, se podia ver a caixa de água, e eu deixei o danado entrar, os dois
sentam na sala, eu vou pegar os óculos pra enxergar melhor os papeis que a moça
trazia, quando volto os dois se tinham escafedido, fiquei pensando, pensando,
quando dou conta vejo minha Chiquinha vindo correndo assustada do banheiro, vou
lá, encontro os dois de cochicho, o rapaz aponta o papel colado na porta e diz:
tá tudo nos conformes, seu Zé, a moça, corada, olhou pra mim, A esferográfica dele não
tava dando certo... Sei moça, sei, esse problema das esferográfica, pensei”,”E
aí?”, perguntou o outro, “Que é que você fez?”, “Eu? Eu não fiz foi nada... De noite
Martinha é que teve que me aguentar”.
Tive que ler duas vezes...
ResponderExcluirDá segunda fez sentido...
Até mais RB...
Poisé...para a próxima corre pela casa como estavas nu banho e deixa o badalo dançar as horas. Sabes quanto isso é gostoso e ajuda a ficar mais consistente...
ResponderExcluirDepois espreita pelo buraco e não abras a porta a ilusões baratas...
Danado isso acontecer e te deixarem bem depenado e de pau murcho...